As serpentes continuam matando
Flagelo de países pobres, as picadas de cobra são uma das doenças tropicais mais negligenciadas. Na Índia, elas matam mais que em qualquer outra parte do mundo. As serpentes, contudo, poderiam ter o poder de curar, mas para isso seria necessário superar obstáculos industriais, logísticos e culturais impostos à produção de soros
Dos arrozais de Kerala às planícies semiáridas do Rajastão, as serpentes povoam a terra e o imaginário dos camponeses indianos. Os cultos hinduístas e budistas estão repletos de nāgas, gênios guardiães do solo meio homens, meio serpentes. “São fonte tanto de perigo quanto de fecundidade”, explica o indianista Michel Angot. “No Pañchatantra, uma coletânea de fábulas [datando de 300 a.C.], um homem avista uma naja no fundo de um poço e fica com medo”, relata o pesquisador. “Mas ela lhe diz: ‘Sabes muito bem que só picamos quando nos ordenam’.” O animal aparece como o braço armado do destino. Priyanka Kadam se ocupa desses mitos recorrentes. “Muitos indianos atribuem as picadas de cobra a uma maldição”, constata a fundadora da Snakebite Healing and Education Society, uma associação sediada em Mumbai, no sudoeste da Índia. “Quando são picados, imediatamente procuram os curandeiros.” Essa assistente social percorre o subcontinente para esclarecer as…