Três importantes influencers brasileiras do nicho da comunidade árabe e da religião muçulmana no Instagram dizem ainda sentir sequelas de um suposto silenciamento algorítmico. Entre elas, duas – Mariam Chami e Hyatt Omar – foram entrevistadas em reportagem do Le Monde Diplomatique Brasil no mês de junho, quando tiveram posts e stories suprimidos após defender a causa palestina e as expulsões de palestinos do bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental.
Atualmente, Mariam e Hyatt voltaram a reclamar da queda brusca de audiência e bugs durante lives. Hyatt Omar afirma que as visualizações de seus stories estão caindo nas últimas semanas – ela geralmente tinha 15 mil visualizações, hoje tem 3 mil. Já Mariam diz que sua audiência não foi mais a mesma desde junho, quando se posicionou sobre os acontecimentos em Sheikh Jarrah. “Nunca mais voltou ao que era. Antes, eu tinha no mínimo mil pessoas em uma live. Depois da censura, minha audiência chegou a cinquenta pessoas”, afirma.
Já a terceira influencer, Carima Orra, conta que há um ano sofreu uma enxurrada de pedidos de derrubada de seu perfil por meio do botão “denunciar”, incentivados por uma blogueira que tem uma visão contrária. Isso aconteceu após se posicionar pela causa palestina. Segundo ela, desde então, sua audiência nunca mais foi a mesma. “Fui banida de fazer live, e meu alcance que era de 40 mil pessoas e caiu para 5 mil. Minha audiência chegou a subir para 10 mil, mas nunca mais passou dessa faixa, apesar de meu número de seguidores aumentar”, explica.
As quedas na audiência são preocupantes para blogueiros – pessoas cuja renda depende de parcerias de publicidade, que, por sua vez, dependem de grandes números. O Instagram é o meio pelo qual esse tipo de trabalho autônomo acontece e, muitas vezes, a falta de transparência sobre o que ocorre no funcionamento da plataforma pode deixar as blogueiras sem uma resolução sobre a continuidade de seu trabalho.

Instagram cita mudanças na plataforma como explicação para alterações na audiência
Procurado, o Instagram afirmou à reportagem por meio de sua assessoria que “em junho deste ano, Adam Mosseri [CEO do Instagram] explicou em um post no blog oficial da plataforma como os algoritmos funcionam nas diferentes superfícies, como stories, feed, reels e explorar”, deixando implícito que essas diretrizes devem resolver os questionamentos das influencers.
Um vídeo de Mosseri também viralizou no mês passado, em que ele explica, no perfil oficial Creators, como os algoritmos funcionam através dos diferentes formatos de conteúdo.
O Instagram, por outro lado, não respondeu à pergunta da reportagem que questionou se há algum tipo de inteligência que detecte conteúdo sobre a causa palestina, podendo punir seu criador.
Depois que a reportagem contatou o Instagram nesta primeira semana de agosto, Mariam Chami afirmou que sua audiência voltou a subir, chegando a seiscentas pessoas em uma live.