Capital, propriedade e gestão
Há mais de um século, o capitalismo separou os proprietários jurídicos dos meios de produção de quem os administra. Diversos autores dedicaram-se ao estudo dessa cisãoGérard Duménil, Jacqes Bidet
Jürgen Habermas estabelece uma relação entre dois “subsistemas”, um do mercado e do dinheiro (a economia), outro da administração e do poder (a política). Ele retoma assim uma divisão bastante tradicional do campo social, que, ao definir a economia pelo mercado, acaba por favorecer o liberalismo. Em seu esquema das classes dominantes, Pierre Bourdieu distingue dois grupos mais ou menos antagônicos: um mais bem dotado de capital econômico e o outro de “capital cultural”, de “competência”. Ele não relaciona esta especificamente às relações de produção, mas ressalta seu caráter socialmente arbitrário e seu papel na reprodução do sistema de classes. A referência a um capital cultural evoca vários trabalhos que utilizam o conceito de intelligentsia para definir a classe dominante no “socialismo real”. Mas Moshe Lewin demonstrou que, na União Soviética, as relações de classe se articulavam primordialmente a partir das hierarquias dos grupos diretivos.
No início do século 20, nos Estados Unidos, a separação entre a propriedade e a gestão das empresas suscitou inquietação nos proprietários, ameaçados de perder o controle do sistema produtivo. A partir de então, desenvolveram-se as teses relativas ao “capitalismo gerencial” ou capitalismo dos gerentes (ver a obra de síntese de Alfred Chandler, The Visible Hand, de 1977, uma alusão à “mão invisível do mercado” de Adam Smith, à qual Chandler opõe a decisão consciente do gerente). Essas teses tiveram seu auge nos anos 60, especialmente nos trabalhos de John Kenneth Galbraith relativos à “tecnoestrutura”, quando o compromisso social-democrata parecia reinar na gestão das empresas, nas políticas econômicas e nas práticas culturais. Ainda que as funções gerenciais não tenham deixado de ser reforçadas, inclusive no setor financeiro, a nova ascendência dos capitalistas no neoliberali