Com respeito e admiração
Embora tenha, muitas vezes, cruzado com o professor Paul Singer nos corredores da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e conhecesse alguns de seus trabalhos, publicados na revista Estudos/Cebrap, não tivemos um contato maior durante os anos 70 e 80 porque, enquanto ele pesquisava no Cebrap, eu me encontrava no Cedec. Foi somente durante o governo de Luiza Erundina que pude efetivamente conhecê-lo e conviver com ele e, mais tarde, durante os governos de Lula, pude acompanhar a marca indelével que deixou na história social do Brasil com a ideia e a prática das cooperativas.
Quero me referir, aqui, apenas ao seu trabalho no governo municipal de Luíza Erundina, quando tivemos maior convivência.
Como secretário municipal de Planejamento, sua tarefa era dificílima. De fato, havíamos encontrado a Prefeitura Municipal de São Paulo destruída e desinstitucionalizada pelo governo de Jânio Quadros, precisando não apenas ser reconstruída fisicamente, mas também reinventada numa perspectiva de governo popular e democrático, no qual os programas sociais, até então inexistentes, eram prioritários e exigiam uma nova concepção da administração dos recursos públicos para a qual a maioria dos funcionários municipais não estava preparada. Além disso, Luiza Erundina não conseguiu empréstimos estaduais nem federais e foram barrados seus pedidos de empréstimos internacionais, de maneira que os recursos se reduziram praticamente aos impostos municipais e, em particular, ao IPTU.
Evidentemente, cada secretaria municipal, trazendo novos programas e novas finalidades, considerava-se prioritária e sem Paul Singer teríamos tido conflitos intermináveis. Com enorme paciência, com grande firmeza e com a delicadeza e o respeito que o caracterizavam no trato com as pessoas, Paul conseguiu a proeza pacificadora de nos fazer compreender seu planejamento das finanças municipais, a forma de distribuição equitativa dos recursos segundo as prioridades estabelecidas pela Prefeita e pela Secretaria Municipal de Finanças, dirigida por Amir Kahir, e sobretudo nos trouxe a invenção de formas de auxílio mútuo entre as Secretarias para o uso inteligente dos parcos recursos em programas conjuntos e, usemos a palavra singeriana correta, cooperativos.
Não apenas cada um de nós, o governo de Luíza Erundina, o Partido dos Trabalhadores, os movimentos populares e sociais da cidade de São Paulo, mas também a história político-social deste país temos uma dívida de admiração e respeito por esse homem modesto, calmo, firme, paciente, de inteligência brilhante e inovadora no pensamento das questões econômicas e sociais, comprometido com a verdade e a liberdade, devotado à justiça e à esperança de construção de uma nova humanidade. São essas ideias e práticas que o Instituto que leva seu nome nos inspiram e nos conduzem.