Como o Equador desceu ao inferno
Até meados da década de 2010, o Equador apresentava níveis de homicídios singularmente baixos. Agora, o pequeno país andino é um dos mais perigosos da América do Sul. Impulsionada pelo retorno dos conservadores ao poder em 2017, essa virada para a violência favoreceu seu candidato no segundo turno das eleições presidenciais de outubro. Como explicar esse paradoxo?
É dia 20 de agosto, 10 horas da noite. Está escuro em Guayaquil – a “Pérola do Pacífico”, capital econômica do Equador. Os televisores acabam de dar a notícia: a candidata de esquerda Luisa González, do movimento Revolução Cidadã (RC), venceu o primeiro turno das eleições presidenciais (33,61% dos votos). Quem a enfrentará no seguinte turno é o empresário Daniel Noboa (23,47%), da Ação Democrática Nacional (ADN), filho de um multimilionário magnata da banana. Agitação, manifestações de alegria, fogos de artifício – gritos, palavras de ordem? Nada! Contudo, o tempo está agradável, quase quente. Ótimo para os vencedores saírem às ruas celebrando a vitória. Ninguém! Ninguém, a não ser uns sessenta militantes de Noboa reunidos sob um facho de luz, em frente a um hotel na 12ª Avenida, no Malecón – o calçadão que se estende à margem do Rio Guayas. No centro, em torno da Praça São Francisco ou…