Como o Twitter respondeu às candidaturas lavajatistas?
Faltando uma semana para Sergio Moro se filiar ao Podemos, as hashtags #moropresidente2022 tinha um número significativo de menções, seguido das #brasilquermoro e #moro22. Já para Deltan Dallagnol, o cenário não parece estar tão bom. É, inclusive, o #tácaroculpadebolsonaro que ganha na série de hashtags associadas ao procurador da Lava Jato
Desde que o ex-juiz Sergio Moro se filiou ao Podemos, no dia 11 de novembro, não faltaram avaliações do impacto da sua candidatura no cenário eleitoral. Existem as mais contundentes, advertindo que Moro é uma versão mais palatável “num terninho alinhado” de Bolsonaro (de quem, aliás, foi ministro da Justiça) até aquelas mais contextuais analisando o espaço que Moro ocuparia na chamada 3ª via. Em geral, todas as avaliações muito pertinentes e dentre elas destaco a do colunista de “O Globo”, Bernardo de Mello Franco, pontuando como “Moro entra no páreo como segunda via do bolsonarismo”. Em resumo, uma certeza: Moro se torna uma alternativa para a direita que suporta Bolsonaro, mas se pudesse não pagaria o preço dos seus arroubos.
Uma versão similar ao projeto bolsonarista, tendo mais verniz e comedimento no trato é uma espécie de sonho encarnado na figura de Moro, cujo cargo pleiteado ainda não está definido, mas provavelmente será o do presidente. No quadro atual, uma disputa ao Senado é claramente um plano B. Assim, 2022 nos reserva um momento singular em que Lula, Bolsonaro e Moro disputariam as eleições presidenciais em uma espécie de ponto alto da catarse histórica à qual o país está envolto desde as eleições de 2014. É o caso de se pensar num compêndio colaborativo em homenagem à obra de Freud, especialmente à “Psicologia de massas e análise do eu”. Seria um seminário intitulado: “O caso brasileiro”. Para além da ironia, o ponto em questão é mostrar como a escolha do próximo presidente vai por à prova o papel institucional, por exemplo, em uma postura mais combativa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas também servirá como um embate entre a política tradicional e uma promessa moralizante encarnada pela Justiça.
Nesse sentido, Moro terá que fazer um movimento duplo, o de passar a transitar além da sua bolha, sendo um candidato tanto com approach na política tradicional (qual será o preço da aliança entre o lavajatismo e a base parlamentar que compõe ávido “centrão”?) como com potencial para seduzir a população em uma eleição majoritária. Isso é do jogo da política e, de uma forma ou de outra, foi sobre esses elementos que os analistas lançaram luz. Mas há uma questão incidental aí, embora nem por isso menos importante. Mesmo fora da magistratura e, finalmente fazendo política sem estar protegido pela toga, Moro trará em seu discurso o chamado “governo dos juízes”. Seu slogan de campanha, “Um Brasil justo para todos”, não deixa dúvidas.
Os sinais do Twitter
Então, é o caso de sair da especulação e tentar mapear como o anúncio da candidatura de Moro apareceu no Twitter. Em levantamento feito especialmente para este artigo, o pesquisador Fernando Barbalho, especialista em Rstats e OpenData, mostra algumas questões interessantes. Faltando uma semana para se filiar ao Podemos, no dia 5 de novembro, as hashtags #moropresidente2022 tinha um número significativo de menções e seguido das #brasilquermoro e #moro22, pelo mapeamento foi apenas na 6ª colocação que #moronacadeia apareceu, espalhados na amostragem se seguiam algumas menções que colocavam a competição entre Bolsonaro e Moro evidentes, tais como a, digamos, jocosa #tácaroculpadebolsonaro.
Em outra margem, o cenário não parece estar tão bom para Deltan Dallagnol. É, inclusive, o #tácaroculpadebolsonaro que ganha na série de hashtags associadas ao procurador da Lava Jato. Na sequência, há expressões díspares incluindo referências à Lula e Bolsonaro e mesmo #moronacadeia e #brasilquermoro – ou seja, não é descabido dizer que as pretensões eleitorais de Deltan não estão definidas, perdem-se em diversos pontos. Vale lembrar que o procurador anunciou no início de novembro, precisamente dia 4, que renunciará ao seu cargo no Ministério Público Federal. A expectativa é de que ele também se filie ao Podemos. Aliás, nos últimos dias o general Santos Cruz, entusiasta de primeira hora da candidatura de Moro, também se filiou ao mesmo partido. A Justiça, o MPF e as Forças Armadas devem se abrigar preferencialmente na legenda.
Uma Justiça para lá de política
Mas, voltando ao ponto, é claro que Deltan Dallagnol está fora do páreo para presidente da República e isso, em si, diminui sua relevância. Mas, por outro lado, aponta uma questão de fundo importantíssima que é: como o lavajatismo vai repercutir nas eleições de 2022? Novamente, existe uma questão própria do jogo eleitoral, o tal Moro da terceira/segunda via e seu papel junto à direita “limpinha”, mas existe outro ponto que é: a Justiça se imiscuindo como valor dentro da política.
No Brasil freudiano do “surrealismo fantástico” o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles disse recentemente em entrevista na Jovem Pan que Sergio Moro era comunista. Apesar do aparente delírio, é claro que a fala de Salles se destina a ser editada e correr nos grupos de apoiadores de Bolsonaro. Lá, o ex-juiz será comunista. Em outro plano, Moro deve forçar acusações contra Lula e a esquerda para se fixar como o tal candidato da direita com verniz. Em meio ao delírio, impossível que tal movimento não resvale na percepção da sociedade de Justiça.
Grazielle Albuquerque é jornalista e cientista política, foi visiting doctoral research no German Institute of Global and Area Studies (Giga). Seu trabalho se volta para a relação entre política, justiça e mídia.