Como os talibãs venceram o Ocidente
Os atentados reivindicados pelo Estado Islâmico em Cabul em 26 de agosto mataram mais de cem pessoas, entre as quais soldados norte-americanos e combatentes do Talibã. O terrorismo islâmico fragiliza os dois lados desde o início da guerra, e a intervenção do Ocidente no Afeganistão termina em caos, abalando a imagem dos Estados Unidos. Uma questão permanece: como os talibãs conseguiram vencer?
Como o Talibã, derrotado em questão de meses no outono de 2001, conseguiu vencer os Estados Unidos em um conflito aparentemente tão desequilibrado? A derrota ocidental é fruto de uma visão errônea do Afeganistão, produzida por um universo de especialistas que integra think tanks, órgãos públicos, universidades, ONG internacionais e afegãs, além de empresas privadas. Essa interpretação constituiu uma antropologia imaginária que definiu a sociedade afegã como localista em seus interesses e resistente a qualquer forma de presença do Estado. Embora contrariada pela historiografia recente,1 a visão de uma oposição cultural ao governo afegão é recorrente em reportagens, artigos e obras sobre a intervenção, e até nos discursos oficiais. Às vésperas de ser nomeado chefe das tropas ocidentais, em 2009, o general Stanley McChrystal declarava: “Os problemas históricos fortalecem os laços com a identidade tribal ou étnica, podendo reduzir o apelo de um Estado centralizado. Todas as etnias, especialmente os…