Conflitos e convergências
Nas relações entre China e Índia, competições no campo diplomático e econômico ainda são barreiras à convivência pacíficaMartine Bulard
“Temos muitos pontos em comum com a Índia, especialmente uma civilização brilhante, uma humilhação causada pela ocupação, e uma população expressiva.” Ao fazer esta relação, o professor Yang Baoyun, vice-presidente do Centro de Estudos para a Ásia e o Pacífico da Universidade de Beida, em Pequim, pretende mostrar como os pontos de convergência entre os dois gigantes asiáticos são bem mais importantes que as fontes de conflito.
Os dois países mais populosos do planeta – 1,2 bilhões de habitantes na Índia; 1,3 bilhões na China – ensaiam renovar os laços de sua história comum. No século XVIII, os dois países juntos respondiam por quase a metade da produção mundial (33% para a China e 16% para a Índia). Mas as suas relações têm raízes muito mais profundas ainda: “As relações entre a China e a Índia”, escreveu o economista Anartya Sem, em um artigo publicado pelo New York Review of Books , “tiveram início com o comércio – e não com o budismo. Há aproximadamente dois mil anos, os hábitos de consumo dos indianos – particularmente dos mais ricos – foram radicalmente influenciados pela inovações chinesas”. O escritor cita várias obras. Também chama a atenção para a influência dos matemáticos e astrônomos indianos sobre a cultura chinesa, notadamente nos séculos VI e VII. Por conseguinte, as contribuições foram recíprocas.
Avanços e dificuldades
Nova Déli sabe jogar habilmente com os laços que conseguiu estreitar com Washington, e que inquietam Pequim
Se, a partir do século XIX, o declínio industrial atingiu tanto um país quanto o outro, no século XX a competição transformou-se decididamente em oposição (em torno do Tibet), e até mesmo em guerra pelas fronteiras, em 1962, e na corrida para tornar-se uma potência nuclear (1964, para a China, dez anos depois para a Índia). Depois do fim da guerra fria, as duas nações renovaram o diálogo e desenvolveram relações comerciais. Tanto que a China procura compensar seu atraso tecnológico nos campos em que a Índia se distingue: a informática (software) e certos serviços (centros de atendimento, contabilidade…). Propõe até mesmo a derrubada de todas as barreiras alfandegárias e a criação de uma zona de livre-comércio. As autoridades e o patronato indiano continuam reticentes, pois o produto interno bruto do país representa pouco mais de um terço do PIB da China. Esta já conseguiu conquistar o lugar de segundo fornecedor, atrás apenas dos Estados Unidos.
Além disso, as relações entre as duas gigantes evoluíram profundamente. Não apenas as discussões giraram em torno das questões de fronteiras, mas esse início de negociação se inscreveu em um quadro de um acordo mais amplo de “parceria estratégica para a paz e a prosperidade”, assinado em 11 de abril de 2005. Alguns meses antes, em 14 de novembro de 2004, mais de 1500 marinheiros e oficiais dos dois países haviam efetuado manobras conjuntas de segurança. Isso seria inimaginável apenas três anos atrás. A instauração de relações pacíficas, contudo, não excluem a competição, tanto no plano econômico quanto no plano diplomático. Nova Déli sabe jogar habilmente com os laços que conse
Martine Bulard é redatora-chefe adjunta de Le Monde Diplomatique (França).