Destruições causadas pelos carros
Há cinquenta anos, apesar dos discursos e de adiamentos ilusórios, o tecido urbano não para de se esgarçar. A concentração e a industrialização do comércio desmembram e enfeiam as cidades. Nesse processo, esquecida pelos debates eleitorais, a submissão ao automóvel desempenha um papel determinante
Como, da Alsácia ao País Basco, da Corsa à Bretanha, o país que encarna a diversidade das culturas e das paisagens urbanas na Europa pôde se banalizar e se enfear a esse ponto? Como cidades com um patrimônio arquitetônico tão rico puderam permitir a construção de hangares comerciais tão horrorosos e impessoais em seus entornos, estragando suas regiões centrais e seus bairros populares? Embora a história da urbanização comercial na França continue sendo escrita, ela inicia-se provavelmente em Dayton, nos Estados Unidos, no fim dos anos 1950. “No parking, no business” [Sem estacionamento, sem negócio], dizia o papa dos supermercados, Bernardo Trujillo.1 Preocupada em aumentar as vendas de suas caixas registradoras, a empresa National Cash Register (NCR) organizou seminários sobre os “métodos mercantis modernos” que atraíram diversos ocidentais, sobretudo franceses. Com exceção de Édouard Leclerc, os fundadores de todos os futuros grandes grupos de distribuição da França estiveram ali presentes:…