“Deus é o suprassumo da palavra risco”
Lançado em maio, “Deus do amor furioso”, de Guímel Bilac, relaciona temas como o sagrado, amor e o erotismo. Se Deus é feito do amor, seu semblante seria o amado?
Último verso de um dos poemas que abre o livro “Deus do amor furioso”, de Guímel Bilac (2024/Editora Eu-i). Lançado em maio, o autor relaciona temas como o sagrado, amor e o erotismo. Se Deus é feito do amor, seu semblante seria o amado?
“deus se move/nas maçãs do seu rosto”; “deus enxertou/ algo na fissura/de seu coração”; “Deus é/ a cova que desenha uma coisa/ extasiante como uma estrofe certeira/que ainda não batizei/no rosto de Camila”. Um nome que podemos repetir em três posições diferentes para nomeação, que no final formam uma cosmologia interna, ou seja: ele se faz presente em todos os verbos, constituindo um prisma de imagens na narrativa de Camila, a personagem secundária. Afinal, Deus é o principal regente dessa orquestra de lugares amorosos e do eros do eu lírico, em diálogo com Adélia Prado e Hilda Hilst. A figura da morte, assim, se estabelece em etapas. Contorna o rosto da amada, como se acabasse em uma desilusão, e que na falta (a falta de ser batizada) se faz uma categoria simbólica da ausência. Ausência essa como um dos elementos principais na obra de Guímel.
Se o título tenta nos direcionar para a reflexão de como se faz esse jogo de opostos e alteridade, nos incita a cerrarmos os olhos para compreendermos o percurso de rastros de memórias nos versos sobre o amor. Se o poeta conduz à realização de um duplo no poema “jenny (quando não é mais seguro dizer seu nome), com imagens contínuas do temor do batismo e de tomarem somente uma direção quando há algo que diz o que é a sua identidade, o leitor se depara com o questionamento, para não dizer identificação.
A literatura é e sempre foi um espaço das transgressões, rompendo com representações, indivíduos e seus arquétipos e lugares-comuns. No momento, os catálogos de editoras tem se mostrado cada vez mais abertos com seus lançamentos sobre essas temáticas.
Cabe ao leitor decidir quem será nomeado nesse jogo entre o profano, o amor e seu eros.
Lorraine Ramos Assis (1996) é crítica literária e socióloga. Foi publicada em diversas revistas/jornais nacionais e estrangeiros, tais como Jornal Cândido, Cult revista, Relevo, Granuja (México) e Incomunidade (Portugal). Colabora para São Paulo Review e Revista Caliban, além de integrar o corpo de poetas do portal Faziapoesia. Pesquisa sociologia da literatura e gênero.