Diálogo social, a grande ilusão
A revolta popular provocada pela perspectiva de trabalhar por mais dois anos e pela aprovação forçada do Executivo confirma uma virada. Abalado por governos que definiram como objetivo a felicidade dos acionistas, o crédito concedido pela população ao mundo político desmorona. Este abdicou de sua missão, a ponto deixar nas mãos do Conselho Constitucional uma decisão da qual depende a vida de milhões de trabalhadores. Quando o descontentamento das pessoas comuns serve de guia (ver pág. 2), os líderes sabem alimentar dois tipos de reação: a resignação ou a revolta. Eles estavam contando com a primeira. No entanto, o desejo de viver uma vida digna reacendeu nos menos politizados a força de lutar. E até a Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT) redescobriu as virtudes da luta
“A França que marcha é a França que trabalha e exprime democraticamente seu repúdio a uma reforma injusta”, felicitava-se Laurent Berger, secretário-geral da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), no L’Obs de 9 de fevereiro último. “Esse movimento se parece com a CFDT.” Mas a CFDT se parece com o que atualmente? Onde ela está? Em março de 2020, junto com o Movimento das Empresas da França (Medef, principal confederação patronal do país), ela se preparava para participar de uma conferência de financiamento das aposentadorias pouco antes de o governo renunciar à reforma precedente por causa da crise sanitária. Três anos depois, a imprensa nos mostra Berger como o líder do movimento intersindical mobilizado contra o projeto do governo da primeira-ministra Élisabeth Borne. Seja como for, dessa vez e diferentemente de seus predecessores em outras lutas,1 Berger não fraquejou. Muitos comentaristas atribuíram essa firmeza ao voto, no congresso de junho…