Do que nós (realmente) precisamos?
O grande truque do capitalismo no pós-guerra foi reorientar o desejo de mudança em direção à vontade de consumir. Esse modelo encontra agora seu limite no esgotamento dos recursos naturais. Para pensar um modo de vida ao mesmo tempo satisfatório e sustentável, recusar o império da mercadoria não é suficiente. É preciso refletir sobre nossas reais necessidades
A transição ecológica supõe escolhas de consumo. Mas sobre qual base? Como distinguir, na sociedade futura, as necessidades legítimas das egoístas e pouco razoáveis que deverão ser renunciadas? Essa é a questão abordada pelo Manifeste négaWatt [Manifesto negaWatt], uma das obras de ecologia política mais estimulantes dos últimos tempos, redigida por especialistas de energia.1 Um negaWatt é uma unidade de energia economizada – “nega” de negativo. Graças às energias renováveis, ao isolamento térmico de construções e ao encurtamento de circuitos econômicos, é possível, segundo os autores, colocar em prática um sistema ecologicamente viável em escala nacional, ou além. Com uso constante de tecnologia, nossa sociedade abriga importantes “jazidas de negaWatts”. O consumismo reinante não vai perdurar, porque depende do crescimento permanente de fluxos de matérias-primas e consumo de energia. Seus efeitos alienantes sobre as pessoas já estão demonstrados. Uma sociedade negaWatt é uma sociedade da sobriedade, na qual possibilidades de…