Dos crimes e discursos de ódio no contexto eleitoral
A estigmatização, a desumanização e a fabricação de inimigos e bodes expiatórios são técnicas discursivas conhecidas dos regimes nazistas e fascistas, os quais assumiram o poder pelo voto. Atribuir as causas de todas as mazelas a determinadas pessoas é muito mais fácil do que chamar para si a responsabilidade e dedicar-se ao estudo das causas de problemas complexos
A análise dos crimes e discursos de ódio no contexto eleitoral requer, como pressuposto, um consenso mínimo acerca desses conceitos e, mais especificamente, de que ódio se está a falar. É frequente no debate jurídico o recurso a explicações e análises do ódio levando em conta perspectivas individuais, como algo que se aprende, como emoção, pulsão, sentimento ou um conjunto de paixões negativas, motivadoras de atitudes de indivíduos ou de grupos de indivíduos. Quando se consideram abordagens individuais, com as ferramentas do campo da psicologia e da psicanálise, não são raras as interpretações que, a despeito de reconhecer o ódio como inerente à natureza humana ou fruto das contingências e acasos que marcam histórias de vida, qualificam suas manifestações disfuncionais como anomalias ou patologias, o que, além de gerar efeitos jurídicos no campo da responsabilidade, parte da ideia de que o ódio sem controle pode ser atribuído a supostos “desvios”…