Drama, fé e carnaval
Religiosa, mas sem abandonar os prazeres da carne, a festa que domina a cidade de Belém nada mais é do que a reverberação de um espírito de adaptação do catolicismo. Manifestação da fé em nível corpóreo, a louvação a Nossa Senhora de Nazaré reúne todos os anos milhares de devotos ávidos por pagar suas promessas
Mário de Andrade, em carta a Manuel Bandeira datada de junho de 1927, define Belém nos seguintes termos: “Porém me conquistar mesmo a ponto de ficar doendo no desejo, só Belém me conquistou assim. Meu único ideal de agora em diante é passar uns meses morando no Grande Hotel de Belém. O direito de sentar naquela terrasse em frente das mangueiras tapando o Teatro da Paz, sentar sem mais nada, chupitando um sorvete de cupuaçu, de açaí, você que conhece mundo, conhece coisa melhor do que isso, Manu? Me parece impossível. (…) Porém Belém eu desejo com dor, desejo como se deseja sexualmente, palavra. Não tenho medo de parecer anormal pra você, por isso que conto esta confissão esquisita mas verdadeira que faço de vida sexual e vida em Belém. Quero Belém como se quer um amor. É inconcebível o amor que Belém despertou em mim. (…) O êxtase vai me abatendo cada vez mais. Me entreguei com uma volúpia que nunca possuí à contemplação destas coisas, e não tenho por isso o mínimo controle sobre mim mesmo. A inteligência não há meios de reagir nem aquele poucadinho necessário pra realizar em dados ou em bases de consciência o que os sentidos vão recebendo.”
Viajante contumaz, o autor de Macunaíma jamais imaginou que sua epístola a Manuel Bandeira pudesse expressar, de maneira luminosa, o vendaval de sensações experimentadas quando se visita Belém, sobretudo na época do Círio de Nazaré.
Contada literalmente em prosa e verso, das artes cênicas às plásticas, da literatura à música, esta manifestação foi abordada por praticamente toda expressão artística. Maior procissão em solo brasileiro, ela é considerada patrimônio imaterial da nação e reúne, todos os anos, cerca de 2 milhões de pessoas pelas ruas de Belém, sempre no segundo domingo de outubro.
“No mês de outubro/ em Belém do Pará/ são dias de alegria e muita fé/ começa com extensa romaria matinal/ o Círio de Nazaré.” Estes são os primeiros versos do conhecido samba de Dario Marciano, Aderbal Moreira e Nilo Mendes cantado pela Unidos de São Carlos no Carnaval carioca de 1975, e reeditado pela Viradouro em 2004. Singela, a música explicita a carnavalização – no sentido de Bakhtin – que toma conta da cidade durante a quadra nazarena.
Comecemos com um pouco de história e alguns “causos”: diz a lenda que um caboclo chamado Plácido encontrou uma pequena imagem de Nossa Senhora de Nazaré enquanto caçava nas matas do Utinga – hoje bairro de Nazaré. Levou-a para casa e, no dia seguinte, a santa desapareceu. Pouco tempo depois, Plácido avistou-a no mesmo lugar. Levou-a novamente para casa e, pela segunda vez, ela sumiu. Já ressabiado, foi direto ao local do primeiro encontro e lá estava Nossa Senhora de Nazaré, entre as folhagens de seu aconchego original. Foi o bastante para dar início à fama de milagreira. Ao saber do ocorrido, o governador Francisco de Souza Coutinho levou a imagem para o Palácio do Estado e, novamente, ela desapareceu e foi achada no lugar de origem. Deduziram, à época, que era vontade da santa ficar por lá e construíram uma capelinha de taipa para abrigá-la, onde hoje existe a Basílica de Nazaré. Realizada desde 1793, a procissão do Círio é uma celebração que reconta essa gênese da devoção – de origem portuguesa – à Senhora de Nazaré. Levada pelas ruas da cidade nos braços do povo, a santa sempre retorna à sua “morada”.
Conta-se também que, durante uma das procissões, o carro de boi que levava o bispo e a imagem ficou atolado. Para retirá-lo do lodaçal, uma corda foi amarrada ao veículo e puxada com a “força da fé e os braços caboclos”. Esse episódio deu início a uma das mais caras tradições do Círio: a corda que protege a berlinda e é levada pelos romeiros. É igualmente uma bela metáfora – a imagem da santa deixa o aconchego da igreja (o colo do Bispo) e retorna definitivamente para os braços do povo (na corda) –, que expressa a essência do Círio como festa-ritual eminentemente popular, mistura de transcendência e imanência expressas na corda, talvez seu símbolo mais poderoso.
O que chamamos de Círio em sentido lato se desdobra em várias romarias: rodoviária, fluvial, de motoqueiros etc., variando conforme os momentos do percurso. As procissões tradicionais, porém, são três: a Trasladação, o Círio propriamente dito e o Recírio.
A Trasladação, romaria noturna que acontece na véspera do Círio, começa com uma missa no colégio Gentil Bittencourt, onde a imagem da santa fica o ano inteiro. Uma réplica um pouco maior que a original é levada então em procissão até a Catedral da Sé. É na Trasladação que a santa aparece em trajes de gala pela primeira vez, em sua reluzente berlinda e com um manto confeccionado exclusivamente para aquele ano.
O Círio começa na manhã seguinte com uma missa em frente à Catedral da Sé, no bairro histórico da Cidade Velha. Em seguida, a multidão caminha até a Basílica de Nazaré. O percurso, de cerca de 4 km, tem duração variada conforme o ritmo da corda e, recentemente, bateu o recorde de 9 horas.
Homenagens lúdicas
A partir daí, a réplica da santa fica durante 15 dias na praça-santuário em frente à Basílica. Nesse mesmo período, a imagem original desce de seu altíssimo nicho e fica exposta diante do altar da igreja. No Recírio, sempre numa segunda-feira, a santa retorna à capela do colégio Gentil Bittencourt.
Nesse ínterim, outras duas festas fazem parte do calendário do Círio e são, sem sombra de dúvida, as responsáveis pelo caráter lúdico do evento. A primeira delas é o Auto do Círio, organizado desde 1993. Promovido atualmente pela Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará, é uma homenagem de atores, bailarinos, músicos, cantores, palhaços, escritores e membros de grupos folclóricos à padroeira dos paraenses. Realizado na noite da sexta-feira anterior ao Círio, o espetáculo começa no largo do Carmo com canções em tom de ladainha e percorre as ruas da cidade velha, parando em algumas “estações” (prédios históricos). Seu encerramento acontece na alameda que abriga os dois palácios do governo, atualmente sedes de museus.
É ali que ocorre a “apoteose”, com direito a bateria de escola de samba e canções alusivas ao tema, enquanto uma imagem estilizada da santa sobe aos céus, suspensa por balões e em meio a fogos de artifício. Uma verdadeira ovação. O cortejo reúne cerca de 500 artistas profissionais e amadores, representantes das mais diversas linguagens. A participação é voluntária até mesmo para aqueles de projeção nacional, já que se trata de uma homenagem à santa e ao Círio. Outras 10 mil pessoas vão às ruas da cidade velha para seguir o Auto. Seu subtítulo, “Drama, fé e carnaval”, não deixa dúvidas sobre o hibridismo do espetáculo. Junto a signos cristãos, artistas com os mais diversos tipos de fantasia: orixás, índios e pajés, seres mitológicos, faunos, ninfas e palhaços. Uma profusão de alegorias evolui na cadência da ladainha, que vai acelerando e passa por vários ritmos, até se tornar samba na apoteose, para delírio dos assistentes e passistas.
É a partir daí que o jeito acanhado de Belém muda completamente. Há outro clima no ar. A cidade transborda de gente. Muitos turistas, ribeirinhos e transatlânticos, se acomodam nas casas de parentes e amigos, já que a rede hoteleira da cidade é pífia. Exceção feita a Mário de Andrade, quem visita Belém na época do Círio não pode ter idéia de como é o dia-a-dia do município, pois a Belém do Círio é outra.
Na mesma noite, os artesãos chegam para a Feira de Brinquedos de Miriti, que será montada na manhã seguinte. Retirado de uma palmeira nativa, o miriti é um material extremamente leve e fácil de trabalhar. Com ele são esculpidos barcos, canoas, casas populares, pássaros e animais da fauna amazônica – sempre pintados com cores exuberantes. Os brinquedos de miriti, feitos preferencialmente para a época, são hoje uma festa anacrônica na era das barbies e dos videogames. Sinal dos tempos, seus vendedores são confundidos com contrabandistas ou comerciantes de bugigangas made in China.
A Festa da Chiquita é outro marco lúdico do Círio. É realizada no Bar do Parque, em frente à praça da República, ponto tradicional de boêmios de todos os quilates, prostitutas, michês, traficantes, turistas desavisados – ou muito bem informados – e artistas nativos e estrangeiros. A confraternização começa durante a Trasladação, depois que a imagem da santa passa em frente ao bar. Originalmente, era organizada por um grupo de intelectuais e artistas irreverentes, que elegiam a “puta do ano” entre as prostitutas da redondeza, e o “veado de ouro”, em homenagem aos gays mais notórios da cidade. A festa contava sempre com um grupo de música regional, principalmente de carimbó, e a diversão corria solta até a manhã de domingo, antes que a imagem passasse novamente em frente ao bar, desta vez a caminho da Basílica.
De celebração marcada pela improvisação, a Chiquita tornou-se uma festa gigantesca, com música eletrônica misturada aos sons regionais, drag queens, artistas, intelectuais, ribeirinhos, turistas, simpatizantes e antipatizantes de todos os matizes. Obviamente, a ocasião provoca a fúria de muitos clérigos, que insistem em desconsiderá-la como parte do tributo à Senhora de Nazaré. É, sem dúvida, uma homenagem que não segue os cânones da liturgia católica, mas que reúne os mais diversos grupos constitutivos da sociedade local, até mesmo adeptos de outras denominações religiosas, agnósticos e ateus. Manifestação ecumênica, híbrida e multicultural, a festa traduz algumas características do Círio. Uma delas é apelidar a “rainha da Amazônia” de “Nazica”, jeito carinhoso e irreverente de nomear a santa que reflete a mania de tratar no diminutivo, expressando uma intimidade que muitas vezes não existe.
Depois de participar de todas essas manifestações – pela ordem, Auto do Círio, romarias, Arrastão do Pavulagem, Feira de Brinquedos de Miriti, Trasladação e Festa da Chiquita – o romeiro-brincante ainda precisa ter muito fôlego para a principal delas: a procissão do Círio.
A manhã de domingo é normalmente sem chuvas e com um calor impiedoso. Os promesseiros da corda chegam cedo para conquistar um lugar ao sol. Em frente à Catedral da Sé, o arcebispo reza a missa que dá início à procissão. Finda a cerimônia, a imagem da santa, luxuosamente vestida para sua festa, toma assento em sua exclusiva carruagem dourada e barroca que, protegida pelos promesseiros da corda, serpenteará por entre as ruas de Belém até a Basílica. A berlinda é precedida por vários carros alegóricos, dentre eles os “carros dos anjos” repletos de meninos e meninas em vestes azuis e rosa, feitas com cetim barato e adornadas com asas toscas de papelão e algodão. Muitos dos anjinhos de carne, osso e traços caboclos estão ali para cumprir promessas de seus pais ou avós.
Aliás, essas juras são explicitadas por braços, mãos, pernas, pés e cabeças feitos em cera, casas em madeira ou miriti, tijolos, barcos e cruzes. Com esses signos, os romeiros expressam as graças alcançadas: a cura de um mal físico, a compra ou construção da primeira moradia, ter escapado com vida de uma intempérie ou de um naufrágio em um dos caudalosos rios amazônicos… Até mesmo uma carteira escolar já foi vista na cabeça de um promesseiro, que agradecia à Virgem pela aprovação no vestibular. Vez por outra, vê-se um romeiro percorrendo os 4 quilômetros da procissão de joelhos.
Trajeto penoso
Mas certamente não existe promesseiro mais corajoso e fiel do que aquele que se propõe a ir na corda. Suados, corpos colados, descabelados, exauridos… Pés descalços no asfalto quente. Mulheres de um lado e homens de outro. Não há nenhum tipo de ostentação ou distinção de classe social: todos se tornam contas desse imenso rosário de sacrifícios e penitências e que delimita o espaço “sagrado” da procissão. Ajudar a puxar a corda com a berlinda em seu interior é um ato de bravura e encanto, principalmente porque a multidão que nela se entrelaça constitui um peso incomensurável. Quando a corda se aproxima, abre-se espaço, muitas vezes em um empurra-empurra mais ou menos previsível, para que a santa prossiga triunfante em meio à multidão. Voluntários distribuem água aos romeiros – também um modo de fazer promessa –, que só saem dali no final do percurso ou depois de desmaiar por causa do jejum e do calor. O trajeto é penoso, particularmente na confluência do boulevard Castilhos França com a avenida Presidente Vargas, local de pequeno aclive, mas que exige esforço descomunal para puxar a corda e a multidão, firmemente agarrada nela. É nessa esquina que acontece a mais ensurdecedora das homenagens, feita pelo sindicado dos estivadores: o céu de um azul quase transparente é matizado pela fumaça de milhares de fogos estourados.
As autoridades eclesiásticas já tentaram abolir esse espetáculo insubordinado diversas vezes. Eu mesmo vi, em certa ocasião, a polícia tentando desfazer a corda um quarteirão antes do destino final. Avançando aos gritos de que precisavam cumprir suas promessas até o fim, os promesseiros romperam o bem urdido cordão de isolamento até chegarem diante da Basílica, onde todos, com os pés esfolados, suando em bicas e com variadas expressões beatíficas – não sei se pelo cumprimento da promessa ou se pelo fim do martírio –, rezam de joelhos ao mesmo tempo que deixam a santa em sua morada. Nesse momento, normalmente são ovacionados pela multidão presente. Promessa cumprida, eles sacam facas e canivetes – onde os escondiam? – e dividem a corda em milhares de pedaços… Souvenir exclusivo dos que protegem a santa milagreira. Só quem já viu a corda passar feito pororoca pelas ruas da cidade pode arrepiar-se com esse espetáculo de força, determinação e solidariedade.
Pela enorme visibilidade diante de tantas almas e corpos, o espaço interno da corda já foi ocupado também por autoridades civis e militares, principalmente em época de eleição. Mas hoje em dia é destinado aos clérigos, aos fiéis de diversas paróquias de Belém e à Guarda da Santa – esta, sem nenhuma pompa e circunstância.
Durante todo o trajeto da Trasladação e do Círio, corais adultos e infantis entoam cânticos à Senhora de Nazaré junto com cantores famosos (ou nem tanto). Leila Pinheiro, Joana, Fafá de Belém, Jerry Adriani, Agnaldo Rayol e muitos outros já emprestaram sua voz para homenagear a santa. Pelo visto, a “Nazica” não só tem fiéis, como também fãs. Das clássicas Ave-Marias às canções de Roberto Carlos, há música para todos os gostos.
Fogos de artifício, som de sirenes e sinos, corda, cânticos, janelas e fachadas de casas, bancos e empresas decorados para a ocasião, saudações, aplausos, ladainhas, orações, lágrimas… A imagem vai percorrendo as ruas por entre rios de gente, impávida, consciente de sua majestade e benevolência. Seu manto ricamente bordado, oferecido em geral por um estilista, designer, autoridade ou membro de família tradicional, é assunto de conversas e fofocas durante toda a quadra nazarena. Infeliz o autor de um manto mais simples ou fashion: o povo não perdoa. A carruagem, que apareceu pela primeira vez em 1855, é outro motivo de comentários. Feita de madeira de lei, recoberta de folhas de ouro 23 quilates e adornada com pingentes de cristal em seu interior – barroca e excessiva –, ela é o centro do cortejo. Na década de 1960, inventaram moda e colocaram Nossa Senhora de Nazaré em uma berlinda de design mais “limpo” e estilizado, que permitia melhor visualização da imagem. O povo não gostou da simplificação e exigiu a volta da versão antiga. O artista João Pinto foi convocado e construiu a atual réplica em 1966. De fato, as pessoas gostam de luxo e não admitem que sua rainha, mesmo no calor acachapante dos trópicos, saia às ruas sem a pompa e a circunstância necessárias. Ao fim e ao cabo, a berlinda tem de ser, necessariamente, a campeã no quesito “alegoria e adereço” do Círio.
Assistir à passagem da santa em sua carruagem, cercada pelos romeiros da corda, é uma emoção ímpar. Se resistirmos ao fascínio desse momento e conseguirmos prestar atenção no entorno, veremos muitos olhos marejados, de fiéis e incrédulos, indistintamente. “Ouvi as preces, murmúrios de luz que aos céus ascendem e o vento conduz; conduz a vós, Virgem Maria rogai por nós” – resume luminosamente a popular Ave-Maria de Jayme Redondo e Vicente Paiva.
Comedimento e excesso
Terminada a procissão é hora de reunir-se em torno da mesa com amigos e familiares. Desta vez o espetáculo é para o olfato e o paladar. As “peças de resistência” são a maniçoba e o pato no tucupi, mas também os peixes amazônicos, sempre presentes. Tudo pode ser acompanhado de cerveja, vinho ou cachaça, já que os paraenses se sentem liberados nesse dia. Para a sobremesa, doces elaborados com as frutas regionais, principalmente cupuaçu e bacuri. A um não-nativo os sabores e odores podem parecer exóticos e estranhos. Mas para o paraense é apenas o reencontro dos sabores típicos dos dias de festa. Nesse quesito, não posso deixar de fazer um alerta: gourmets do mundo inteiro apressai-vos! Ferran Adrià, o badalado chef catalão, já anunciou que a próxima moda gastronômica surgirá dos “exóticos sabores da Amazônia”.
O Círio é ocasião de orações, de promessas, festas, delícias, emoções inusitadas, comedimento e excesso. Por entre miríades de significantes e significados aparentemente conflitantes, é uma daquelas festas de caráter espiritual que não abandonam os prazeres da carne. Não se trata da exemplificação da fé dos teólogos, místicos, eruditos, dos letrados. É a manifestação da fé no nível da imanência – apesar do paradoxo –, do visível, do palpável, do corpóreo. É, por assim dizer, a “performance da fé”, que não se reduz à oposição entre o sagrado e o profano, mas, ao contrário, produz um entrelaçamento peculiar do fenomênico com o numinoso.
Finalmente, há que lembrar que o culto mariano era praticamente inexistente nos primórdios do cristianismo. A doutrina e a prática católica (incluindo o culto à mãe de Jesus) foram amalgamando tradições outras – filosóficas, religiosas, mitológicas, artísticas, estéticas, arquitetônicas – e tornando-se, ao longo dos séculos, provavelmente a mais mimética das tradições culturais do Ocidente. Como sobrevivência de um ancestral matriarcado, o Círio de Nazaré nada mais é do que uma reverberação desse espírito mimético do catolicismo, uma espécie de palimpsesto.
E que Bento XVI não nos ouça e nem nos leia: ultra aequinoxialem non peccari (não existe pecado aquém da linha do equador). Amém!
*Afonso Medeiros é professor de história da arte da Universidade Federal do Pará.