Duas décadas de guerra por nada
As imagens de civis se agarrando a aviões norte-americanos para deixar Cabul e de talibãs instalando-se no gabinete presidencial ficarão para sempre como símbolos de uma guerra invencível. Os insurgentes chegaram ao poder depois de uma campanha-relâmpago porque souberam se instalar no país (pág. 14). Exausta após décadas de guerra, a população almeja a paz, como testemunha nosso enviado especial (pág. 26); de seu lado, os países vizinhos apressam-se a negociar (pág. 28). O balanço humano, financeiro e democrático é devastador e inapelável (abaixo)
Nunca um país mereceu tanto seu epíteto – “cemitério dos impérios” – do que o Afeganistão. Depois de expulsar os mongóis e os persas, ele botou para correr de seu território o império britânico no século XIX, o soviético no século XX e o norte-americano no século XXI. Os Estados Unidos, ao fim da guerra mais longa de sua história – duas décadas – e após terem envolvido em sua cruzada nada menos que 38 países sob o comando da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), retiram-se no mais absoluto fiasco. Suas últimas tropas terão partido “o mais tardar em 11 de setembro de 2021” – o vigésimo aniversário dos ataques ao World Trade Center e a Washington, que foram o pretexto para sua entrada em Cabul. Anunciada pelo ex-presidente Donald Trump para maio de 2021, a retirada foi operada por Joe Biden com apenas alguns meses de atraso.…