eclipse, poemas de Hermes Coêlho
Neste terceiro livro, publicado pela editora Patuá, Hermes Coêlho reúne poemas que abordam a força do que não parece visível, mas se faz presente ainda assim, para abordar o trauma da descoberta de que foi contaminado pelo vírus HIV e seus desdobramentos
eclipse, título do terceiro livro de Hermes Coêlho, é uma palavra que carrega em seu cerne luz e escuridão. E, por isso, é o melhor termo para nomear esse livro em que a poesia e a linguagem trabalham juntas numa tentativa de transmutar em verso o processo de (re)construção da subjetividade após o trauma da descoberta da contaminação pelo vírus HIV.
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Além do jogo de sombras, esse vocábulo também evoca a presença de diferentes corpos que passam a disputar, ao menos durante um momento e numa perspectiva específica, um mesmo espaço. Funciona, então, como uma palavra-título que serve para fazer quem lê pensar em desejo, resiliência, movimento e também na presença silenciosa de um vírus que, pela sua história, sua biologia e, talvez principalmente, o estigma social que representa, parece querer rivalizar com a vida e o bem viver.
Dividido em quatro partes (a letra h, eclipse, invisíveis e divindades), a obra se constrói em torno de temas como pertencimento, sexualidade, luto e retomada. Hermes Coêlho coloca sangue no que escreve, mas também suor, saliva, corpo e língua. A letra H ganha novas dimensões quando o autor a costura ao seu nome e ao mundo mitológico que referencia e, nesse jogo fonético e semântico, recria sua experiência e a transforma. Eclipses acontecem quando a linguagem é tirada de seu lugar de sempre e, ainda assim, tem a força de um testemunho.
Thaís Campolina é escritora, mediadora de leitura e especialista em Escrita e Criação pela Unifor. Autora de livros e plaquetes, seu trabalho mais recente, “estado febril” (2024), foi publicado pela Macabéa Edições.