Em Cabul e Kandahar, longe das câmeras
Portadores da rejeição aos norte-americanos e ao governo instalado no Afeganistão, os talibãs comandaram uma campanha-relâmpago para retomar o poder. Deslocados, mutilados, os civis pagam um pesado tributo pela guerra
Nestes primeiros dias de agosto, Cabul já vive um caos indescritível. Em Shahr-e-Naw, um dos parques da cidade, amontoam-se os deslocados das províncias do norte, expulsos pelo avanço dos talibãs. “Se não pode ajudar, o que está fazendo aí?”, irrita-se uma jovem, cujos olhos brilham de raiva por trás da burca clara que usa, como todas as outras. Um choque visual na capital. Até a chegada dos refugiados, poucas eram as habitantes que usavam mais que lenços leves. Homens, mulheres, velhos, crianças: todos se debatem em uma confusão descontrolada para encontrar um pedaço de pão, um tapete ou uma lona que possa abrigar sua família nos espaços verdes desse bairro rico. Dois homens se mantêm à parte das acaloradas discussões, olhando para o nada. Bahadur1 é originário de Kunduz, que caiu em 11 de agosto. “A situação não para de piorar”, testemunha. “Não há ninguém para garantir a disciplina, nenhuma…