A esquerda e a arte
Ao abrirem suas coleções ao público com o apoio do poder público, os bilionários franceses François Pinault e Bernard Arnault tornam-se os padroeiros empresariais das artes, cujo preço eles ajudam a definir. A indústria cultural promove formas que modelam a percepção e os valores. Para os progressistas, porém, a arte deve ter uma utilidade social
Momentos verdadeiramente engraçados foram muito raros durante a crise sanitária. Mas houve um, em pleno confinamento: quando o presidente Emmanuel Macron, em mangas de camisa, meio desgrenhado e irrequieto, dirigiu-se a alguns artistas para lhes explicar o sentido da vida e do timing: “Robinson Crusoé não se prende a grandes princípios, sai à rua em busca do que permitirá sua sobrevivência. Queijo, presunto, itens bem concretos. Só depois é que vai inventar alguma coisa e criar. Quando naufraga, não mete as mãos na cabeça para conceber uma grande teoria do naufrágio”.1 Essa argumentação pode parecer um trecho de comédia, mas não deixa de revelar certo bom senso. Também é verdade, afora o presunto e queijo, que as necessidades elementares são geralmente prioritárias, como bem lembra Bertolt Brecht na Ópera dos quatro vinténs: “Primeiro a comida, depois a moral”. Ao que tudo indica, a fala do presidente pretendia pôr os artistas…