Esses gentis artistas governamentais!
Sonhar com mundos novos? Diversos “criadores” responderam ao chamado do governo, engajado em financiar generosamente projetos com essa finalidade. O governo acertou em cheio: esses projetos não correm o risco de causar problemas nem de flertar com a crítica. Os artistas laureados estão a serviço do embelezamento do sistema
Foi um momento comovente. A pandemia e sua gestão provocavam uma pergunta insistente sobre as “disfunções” de nossa sociedade e suscitavam, com o inabalável desejo de acabar com seus erros, a não menos inabalável certeza de que nada mais seria como “antes”: de todos os lados, conclamava-se o “mundo de depois”. O entusiasmo arrefeceu um pouco, mas ainda assim o governo abriu, em junho de 2021, no quadro do plano de recuperação, um concurso destinado aos artistas cujo nome é uma variante desse tema: “Mundos novos”. Esse contrato público de 30 milhões de euros tem um duplo objetivo: sustentar os criadores, em sentido amplo, e, graças às suas obras concretizadas no local de sua escolha, “reencantar o mundo”, como se lê no site do Ministério da Cultura. Eis aí uma fórmula desgastada que, sem dúvida, deve seu sucesso persistente a um sentimento dos mais falaciosos: com efeito, quando é que…