Estranha suspeita em Buenos Aires
Com base em “provas” obscuras, relacionadas a um atentado jamais esclarecido, a justiça argentina está pedindo a extradição de um ex-presidente e diversas autoridades do Irã. O episódio evoca um favor prestado aos EUA, também contra Teerã, nos anos 50Ignacio Klich
Como pano de fundo, as ambições nucleares do Irã. Seus adversários e mesmo alguns dos seus partidários consideram que elas vão além da produção de energia. Com ou sem prova irrefutável, supõem que a finalidade é, também, fabricar armas nucleares [1]. Nesse contexto, a recorrente comparação feita por Israel entre o presidente Mahmud Ahmadinejad e Adolf Hitler (antes aplicada a Gamal Abdel Nasser, Saddam Hussein e Yasser Arafat), é retomada pelos Estados Unidos. Favorável a um ataque contra as instalações nucleares iranianas, um antigo diretor da CIA, James Wooley, escreveu: “Devemos levar em conta seriamente o que uma pessoa como Ahmadinejad diz aos seus partidários. Quando Hitler revelou que queria exterminar os judeus, tinha realmente essa intenção. Tudo estava escrito, palavra por palavra, em Mein Kampf. Eles não mentem, anunciam os seus verdadeiros objetivos [2]”. Sem descartar o recurso ao método comparativo, para tentar compreender as situações presentes, o pesquisador Dominique Moïsi considera que “o uso de analogias históricas para interpretar o presente é, ao mesmo tempo, tentador e perigoso [3]”. Perturba mais do que ilumina os espíritos.
No entanto, observar a história é às vezes esclarecedor. Dois episódios da relação argentino-iraniana — um atual, outro de mais de cinqüenta anos atrás — permitem identificar certa constância da política externa de Buenos Aires e mostram parte da dimensão da crise de energia iraniana. O primeiro é a nacionalização do petróleo por Teerã nos anos 1950. O segundo, o mandado de prisão internacional e o atual pedido argentino de extradição do antigo presidente Akbar Hachemi Rafsanjani (1989-1997) e de seis outros altos funcionários do país.
A origem dessa diligência espetacular é o atentado reivindicado por um misterioso “comando islâmico” e cometido em Buenos Aires contra a sede da Associação Mútua Israelita-argentina (AMIA). Consumado em 18 de julho de 1994, deixou 85 mortos e mais de 200 feridos. Algumas semanas depois, os Estados Unidos deram uma pista que conduzia ao escritório do adido cultural da embaixada do Irã, Moshe Rabbani. Mas várias outras hipóteses foram evocadas. A dos carapintadas [4]: uma forte corrente anti-semita atravessou a polícia e o exército argentinos, implicados na ditadura recente (1976-1984). O anti-semitismo “comum”: milhares de nazistas alemães e ustachis croatas encontraram refúgio na Argentina no fim da Segunda Guerra Mundial. A própria Justiça se orientou, certa vez, por uma pista israelense: o crime teria sido organizado para fazer sair do torpor o sionismo pouco afirmado da comunidade judaica argentina [5]. Suposições abandonadas uma a uma. Igualmente plausível, a pista do Oriente Médio é a mais evocada.
Em outubro, um pedido do juiz reaviva a “pista iraniana”
Ela reapareceu em 25 de outubro de 2006, quando o procurador federal de Buenos Aires, Alberto Nisman, acusou oficialmente o governo iraniano e o Hezbollah libanês de serem responsáveis pelo atentado. Nisman solicitou ao juiz Rodolfo Canicoba que emitisse mandados de prisão internacionais contra sete autoridades iranianas.
Os procuradores sustentam que a destruição do edifício da AMIA foi um ato de represália ligado à suspensão unilateral da assistência tecnológica nuclear, até então, concedida por Buenos Aires a Teerã. A decisão de interrompê-la foi adotada em 1991 pelo presidente Menem (de ascendência síria) [6].
Inicialmente, as teorias colocavam a tônica sobre o descontentamento do mundo muçulmano devido a um enorme leque de supostos fatores. Entre eles, à participação argentina na primeira guerra dos Estados Unidos contra o Iraque. Os prejuízos causados ao Iraque, financiador do Egito e potencial beneficiário do projeto dos mísseis Condor, (desenvolvido com a Argentina, mas abandonado por Menem). A decepção de Trípoli, após a Líbia ter investido nos fundos da campanha eleitoral de Menem e este ter afastado a Argentina do Movimento dos Não-alinhados, para se aproximar dos Estados Unidos. A desilusão, provocada em Damasco, pelas diferentes viagens do presidente argentino ao Oriente Médio — que excluíam a Síria e passaram a incluir Israel.
No entender de George W. Bush, o Irã pertence ao eixo do mal. Voltando-se a Teerã para encontrar os responsáveis do atentado contra a AMIA, as instâncias argentinas fornecem a Washington um novo argumento, na sua tentativa de travar os planos nucleares de Teerã. A reação da Casa Branca aos pedidos do juiz Canicoba não deixa dúvida: “aplaudimos o sistema judicial argentino por sua procura tenaz dos responsáveis desse terrível atentado”, disse imediatamente o porta-voz de Bush.
Casa Branca comemora “confirmação” de suas hipóteses
Até 1979, o programa nuclear iraniano não alarmava Tel Aviv, que mantinha amizade com xá Mohamed Reza Pahlavi. Alguns anos após sua queda, o Irã foi considerado como a ameaça principal (ainda mais quando o regime de Saddam Hussein foi neutralizado). Portanto, bem antes dos questionamentos de Mahmud Ahmadinejad sobre o genocídio cometido pelos nazistas ou suas declarações sobre a erradicação de Israel do Oriente Médio ou do universo. Tais vociferações, consideradas irresponsáveis até mesmo por muitos iranianos, deram origem à retórica israelense em relação a um “segundo holocausto”.
Implicitamente, o pedido argentino confirma a tese dos EUA e Israel: não se pode confiar em nenhum iraniano se ele dirige um país dotado da capacidade de fabricar armas nucleares (como Índia, Israel, Paquistão e outros). Mesmo se este iraniano conjuga pragmatismo e críticas à gestão de Ahmadinejad como faz Rafsanjani. O revés sofrido por Ahmadinejad nas eleições de dezembro de 2006 deve-se à vitória de Rafsanjani na Assembléia dos Sábios, órgão que escolhe e supervisiona o chefe supremo — atualmente o aiatolá Ali Khamenei. Enquanto o resultado dessas eleições demonstra esperança de mudanças internas, vários observadores avaliam que Rafsanjani é o melhor colocado para tomar o lugar de Khamenei como guia supremo, em razão das manobras deste último para reprimir o presidente Ahmadinejad [7].
A acusação formulada em Buenos Aires contra o ex-presidente iraniano não repousa sobre provas descobertas na Argentina, mas sobre relatórios que provêm dos serviços secretos norte-americano e israelense. De acordo com Zeev Schiff, especialista em questões militares, “informantes israelenses descobriram a maior parte dos detalhes da participação iraniana [8]”. No entanto, nem o Mossad, nem a CIA ou a Secretaria de Inteligência do Estado (SIDE) argentino, previram os acontecimentos. Não foram capazes de antecipar os ataques contra a embaixada de Israel em Buenos Aires, em 17 de março de 1992 (29 mortes, 242 feridos), nem contra a AMIA dois anos mais tarde, durante o mandato de Menem. Esses malogros não permitem, a priori, afastar a tese israelense-americana, mas sugerem não ignorar os seus pontos fracos. As hipóteses são construídas a partir de declarações de iranianos arrependidos, decepcionados, cuja credibilidade foi questionada diversas vezes pela polícia e justiça.
Depoimentos suspeitos, falta reconhecida de provas
O ex-diretor de informações Abolhassan Mezbahi é um desses iranianos. É o primeiro a ter afirmado, em agosto de 1993, que o atentado contra a AMIA tinha sido organizado por Rafsandjani e Khamenei. Declarou, também, que a fortuna pessoal de Menem aumentou em 10 milhões de dólares após o atentado, graças a um suborno que visava evitar que o inquérito desembocasse em acusações contra Teerã. Pelas notas diplomáticas de 7 de novembro de 2003 e 13 de julho de 2004, o Escritório Federal de Justiça Suíça comunicou às autoridades argentinas que investigação efetuada junto ao estabelecimento bancário indicado revelou-se infrutífero. Além disso, em 2 de setembro de 2004, um primeiro processo resultou na liberação de cinco argentinos – incluindo vários antigos membros da polícia da província de Buenos Aires – suspeitos de terem prestado ajuda à organização criminosa. De acordo com o juiz Juan José Galeano, um deles foi acusado de ter recebido 400 mil dólares do SIDE para orientar o seu testemunho contra o Irã. Galeano foi acusado e afastado do processo devido a irregularidades na condução do inquérito, em agosto de 2005.
A mesma suspeita pesa sobre a confiabilidade de outros testemunhos, como os do grupo Muahidines Khalq. Ele foi apoiado por Saddam Hussein durante a guerra o Irã-Iraque, e catalogado como “organização terrorista” pelos Estados Unidos. O bombardeio feito pelos EUA contra os campos dos Mujahidines, no Iraque, em 2003, foi contrapartida à ajuda que Teerã prestou à luta contra os talibãs (essa assistência incluía, particularmente, o uso do espaço aéreo iraniano para os aviões norte-americanos a caminho do Afeganistão) [9].
Nada do que foi até aqui se afirmou significa que se possa descartar a pista do Oriente Médio, fundamentalista ou não, do atentado. Mas convém pensar que se as armas de destruição em massa de Saddam Hussein, tantas vezes evocadas e nunca descobertas, serviram para justificar a invasão do Iraque, as acusações contra Rafsanjani e outros podem amanhã fazer parte do arsenal de propaganda que visa promover uma guerra contra o Irã. Quando, quatro anos após a explosão da AMIA, dirigentes israelenses falaram de provas concretas sobre a implicação iraniana, o ministro das Relações Exteriores argentino, Guido Di Tella, afirmou que se o responsável do atentado fosse um país “cujo nome começa pela letra I, há mais chances de que fosse o Irã do que a Itália”. Em seguida, contudo, acrescentou: “Mas o que faltam são provas concretas”.
Oito anos depois, em 10 de novembro de 2006, o jornal La Nación, que dificilmente pode ser incluído entre os meios de comunicação críticos a Washington e Tel Aviv, também concluiu: “Faltam provas no relatório” da Argentina. Sua análise sublinha que o processo AMIA converteu-se em “uma questão de fé e não de provas”.
De fato, as provas argentinas foram julgadas insuficientes por Londres — fiel aliada de Washington. Interpelado no Reino Unido, o embaixador iraniano em Buenos Aires, em 1994, Hadi Soleimanpur foi colocado em liberdade por falta de provas em novembro de 2003. A justiça britânica considerou que o material que apoiava o seu pedido de extradição “não preenchia, à primeira vista, as condições probatórias exigidas pelo Reino Unido” [10].
No passado, a oportunidade que Perón perdeu em 1951
Esse novo caso lembra o que ocorreu na época da nacionalização da Anglo Iranian Oil Company (AIOC), decidida pelo Irã, em março de 1951, e a chegada ao poder do nacionalista Mohamed Mossadegh. Com o apoio do Foreign Office, que conseguiu a adesão dos Estados Unidos a sua causa, o AIOC ameaçou qualquer comprador potencial desse petróleo. Chegou a bloquear as exportações iranianas. Naturalmente, a produção petroleira do Irã teve uma queda vertiginosa: de 240 milhões de barris por ano (antes da nacionalização), passou a 9 milhões em 1953. Procurando escapar desse constrangimento, Teerã procura escolar sua produção petroleira junto à Argentina e outros países. Na época, Buenos Aires compartilha com Teerã uma neutralidade declarada, durante as duas guerras mundiais (pelo menos até à invasão do Irã pela URSS e pela Grã-Bretanha em 1941); um tratado de amizade concluído em 1937; e a preferência – ignorada – do xá Reza (pai do governante iraniano deposto em 1979), por exilar-se em Buenos Aires e não nas Ilhas Maurício, para onde foi enviado após a invasão anglo-soviética de 1941.
Diligências iniciadas pelo ministro das finanças de Mossadegh conduzem, em 1952-1953, a uma oferta concreta de petróleo para a Argentina, em condições preferenciais. O Irã concede um abatimento de 30% e aceita mercadorias em pagamento. No entanto, a entrada em vigor da transação foi condicionada a um acordo anglo-iraniano que legitimasse o direito de Teerã de vender livremente o seu petróleo, e de oferecer descontos contratuais. Na ausência desse acordo, a operação ficaria sem efeito. Apesar da atração econômica extraordinária da proposta e das garantias legais, a Argentina não fechou contrato. Em contrapartida, no final de 1952, o governo de Juan Domingo Perón assina um adendo ao acordo comercial concluído, em 1949, com o Reino Unido. Por meio do novo texto, Perón compromete-se a adquirir 4 milhões de toneladas anuais de óleo bruto, combustível, carburante de avião e lubrificantes da Grã-Bretanha. Tal volume não permite nenhuma outra importação de petróleo.
Depois da queda de Mossadegh, após um golpe de Estado organizado pela CIA em agosto de 1953, o ministério do Comércio argentino revelou as considerações que prevaleceram em Buenos Aires: “Apesar do interesse econômico das propostas iranianas para o nosso país, particularmente a relativa à troca de mercadorias, não consideramos conveniente concretizar a operação: do ponto de vista político, o ministério dos Relações Exteriores considerou que o clima de instabilidade gerado pelo governo Mossadegh aconselhava uma posição de espera”. Em suma, a Argentina julgou imprudente fechar um acordo que lhe dava acesso a abastecimento privilegiado de petróleo enquanto a contenda anglo-iraniana não fosse resolvida. Correria o risco de atrair a animosidade britânica e exacerbar a antipatia norte-americana sempre latente.
Um “sinal de boa vontade” de Kirchner a Bush?
Qual é o denominador comum entre a renúncia a uma transação do pós-guerra, economicamente favorável, e a perda, mais recente, de um importante mercado [11]? Se o Irã dos aiatolás difere do Irã imperial, e a Argentina de Kirchner da de Perón, a relação bilateral – em curva ascendente nos anos 1950, descendente depois do processo AMIA – encontra-se afetada nos dois casos por considerações políticas similares. A prioridade atribuída por Buenos Aires à relação com as grandes potências, e o imperativo de não se envolver em conflitos distantes. A prudência de Perón diante da oferta de Mossadegh estava em sintonia com os votos da Argentina na ONU, a respeito da descolonização — mais próximos dos interesses das potências européias. O pedido de extradição de Rafsanjani faz parte dos sinais que Kirchner, mais atento do que os seus antecessores ao processo AMIA [12], dirige aos Estados Unidos.
Nada permite afirmar que o governo, ou o próprio chefe de Estado, interferem diretamente no funcionamento da justiça argentina e lhe ditam as suas conclusões. A “pista iraniana” foi fabricada peça por peça sob — ou pelo — governo Menem. Mas, incontestavelmente, Kirchner utiliza os fatos para agradar Washington, em um período em que as relações entre as duas capitais não são sempre boas. Não é necessário esquecer o interesse de Buenos Aires em investimentos estrangeiros, incluindo norte-americanos. Isso levou Kirchner, por exemplo, a deixar de lado tentações “sessentistas”, como disse um embaixador da França a seu respeito, para tocar o sino de abertura de uma sessão de Wall Street, em setembro de 2006.
Por outro lado, o pedido de extradição de Rafsandjani permite-lhe diferenciar-se, no plano interno, dos seus antecessores. Em especial Carlos Menem e Eduardo Duhalde. No plano externo, da Venezuela de Hugo Chávez, que mantém excelente relação com Teerã. O fato de se opor à proliferação das armas nucleares e de apontar o Irã como responsável pelo atentado da AMIA permite ao presidente argentino deixar subentendido a Bush que a compra venezuelana de 3,5 bilhões de dólares de títulos da dívida argentina – e em breve 2 bilhões suplementares -, e a entrada de Caracas no Mercosul não provocarão uma política anti-norte-americana [13] e, tampouco, conduzirão à deterioração das relações com Israel. “Fervendo” com Bush e amigo de Teerã, Chávez é o único líder da região que, em 2006, por solidariedade às vítimas libanesas, retirou o seu embaixador (neste caso um agente de negócios) de Israel — sem, entretanto, romper as relações com esse país.
Posição geral da Argentina não é alinhamento com os EUA
Igualmente influenciada pela guerra contra o terrorismo e o tráfego de drogas, essa maneira de gerir as relações diplomáticas com Washington não significa que exista uma harmonia total entre as duas capitais. A Argentina — acompanhada, neste caso, por Brasil e Paraguai — rejeita a tese dos Estados Unidos, para quem a Tríplice Fronteira (zona que une Argentina, Brasil e Paraguai) seria um centro de financiamento das atividades terroristas do Hezbollah. Em março de 2006, quando um funcionário do ministério das Finanças norte-americano, de passagem por Buenos Aires, abordou o assunto, o ministro do Interior argentino pediu-lhe provas. De fato, libaneses, muitos deles xiitas, fugiram do seu país, a partir de 1976, devido guerra à civil e se instalaram em Ciudad del Este (Paraguai). Hoje, estão agrupados principalmente em Foz de Iguaçu (Brasil). Certamente, eles enviam dinheiro e fazem doações ao seu país, algumas das quais poderiam ser vinculadas ao Hezbollah – um partido que dispõe de vasta rede social.
Assim como Perón não cortou as relações com o Irã de Mossadegh, Kirchner não deseja romper com Teerã. De acordo com o ministro das Relações Exteriores argentino, “as relações comerciais e culturais entraram em marcha lenta”, mas a Argentina “não aceitará pressões dos que querem vê-los romper as relações diplomáticas com o Irã” [14]. Explica-se porque as vaias lançados contra Kirchner, em julho de 2005, durante a comemoração anual do atentado contra a AMIA, provocaram a sua ausência em 2006. Já os líderes judaico-norte-americanos, que pediram para encontrá-lo em setembro de 2006, durante a Assembléia Geral da ONU, foram recebidos pela primeira-dama, Cristina Kirchner. Diante de uma alusão critica a sua amizade com Chávez, Kirchner responde que “ninguém tem direito de escolher os amigos da Argentina [15]”.
No início de fevereiro, durante a visita (quase simultânea) de Alberto Gonzales, procurador geral dos Estados Unidos e Nicholas Burns, número três do departamento de Estado, à Argentina, falou-se novamente das relações com a Venezuela. Os interlocutores do governo platino recordaram que não “concordam em tudo com Chávez”. De sua parte, fazendo alusão a Teerã, Burns declarou que o seu país via na Argentina “o parceiro mais sólido da região sobre as questões de não-proliferação e terrorismo”. S