Fazer sumir: o desaparecimento como tecnologia de poder
A combinação de uma série de variáveis e marcadores sociais – raça, sexualidade, local de moradia, status social, algum tipo de proximidade com práticas ilícitas e ilegais – tem representado uma fatalidade para certos corpos e populações. Veja o quarto artigo do dossiê “Estado de choque”, série de seis análises que publicaremos até julho de 2019
No Brasil atual, dos tempos de Jair Bolsonaro como presidente, viver vem significando ter de lidar com doses diárias de horror. Não que o horror não fizesse parte da história social e política desde o início da formação da nação brasileira. Afinal, a escravidão e a tortura foram pilares sobre os quais o poder colonial se assentou aqui nos tristes trópicos. As tecnologias de terror colonial perduram e se reatualizam historicamente nos desejos das elites brasileiras e nas combinações contemporâneas que articulam capitalismo neoliberal com técnicas e práticas coloniais. É com esse espírito que o governo Bolsonaro corporifica, simboliza e representa o que há de mais anticivilizatório na sociedade brasileira. Com o governo Bolsonaro, o horror é alçado a uma forma de governo que opera por meio da liberação das forças destrutivas que devastam o país e atacam os direitos, o corpo e a vida de centenas de milhares de…