Por muito tempo, os partidários da pena de morte justificaram esse suplício destacando algum assassinato horrível, o de uma criança, de preferência. Câmeras de vigilância, sistematização dos testes de detecção antidrogas, condenações incompressíveis, castração química dos delinquentes sexuais: inúmeras medidas atentatórias às liberdades públicas – inclusive a de ir e vir sem ser observado nem fichado – foram adotadas na esteira de uma foto de impacto. Seguramente, um “símbolo” também pode repercutir combates justos – vale lembrar-se aqui de Guernica ou de Abu Ghraib. Mas, uma mobilização impulsionada apenas por essa alavanca seria suplantada sem demora por outras emoções contrárias, considerando-se o caráter inesgotável do estoque de vítimas disponíveis.
Será que mutilações serão perpetradas “se nós deixarmos o Afeganistão”? Em todo caso, a “nossa” presença não impediu aquelas que lá foram cometidas… Os talibãs dispõem de inúmeras fotos de civis amputados ou mortos por mísseis ocidentais. Um dia, a Time Magazine talvez venha a publicar uma delas. Será que ela a publicará na capa? E qual será a manchete?
Serge Halimi é o diretor de redação de Le Monde Diplomatique (França).