Grandes questões. Respostas indígenas
Apesar de todos os impactos positivos dessas colaborações para pesquisas até agora, sabemos que o Brasil enfrenta questões urgentes relacionadas à sua herança indígena e seu futuro. Este seminário é uma chance para que o povo Kuikuro peça aos colegas indígenas que reflitam juntos sobre como a pesquisa acadêmica pode proteger, preservar e promover o desenvolvimento sustentável para os povos indígenas do Brasil.
Esta semana, no Rio de Janeiro, o povo Kuikuro do Alto Xingu vai dizer HEKITE KUATSANGE EGEI ENHÜGÜ (Seja bem-vindo!) para pesquisadores indígenas de todo o mundo. De Papua-Nova Guiné, Kiribati, Sudão, Dominica, Uganda, Índia, Quênia e Colômbia, assim como das comunidades Guarani-Kaiowá, Tuxa, Baniwa e Tupinambá do Brasil, povos indígenas se reúnem no Museu do Índio para refletir criticamente sobre como métodos indígenas de pesquisa são essenciais para entender os principais problemas que o mundo enfrenta no século 21.
Seja para abordar os desafios da mudança climática ou o racismo, a sustentabilidade ambiental ou a violência de gênero, a seca ou patrimônios culturais ameaçados, os pesquisadores questionam como o conhecimento indígena pode ser ativado de forma efetiva como um recurso para desenvolvimento no futuro.
Pesquisadores do Sudão mostram como o conhecimento tradicional núbio pode informar decisões sobre agricultura sustentável. Uma pesquisadora do povo Emberá-Chami demonstra a importância do conhecimento indígena para a resolução de questões de deslocamento forçado na Colômbia ao lado de um pesquisador Acholi, que examina soluções para a seca em Uganda.
Grandes questões. Respostas indígenas. Apesar de todos os impactos positivos dessas colaborações para pesquisas até agora, sabemos que o Brasil enfrenta questões urgentes relacionadas à sua herança indígena e seu futuro. Este seminário é uma chance para que o povo Kuikuro peça aos colegas indígenas que reflitam juntos sobre como a pesquisa acadêmica pode proteger, preservar e promover o desenvolvimento sustentável para os povos indígenas do Brasil.
Pesquisadores foram convidados a vir ao país para perguntar e entender como esforços de pesquisa colaborativa podem promover a resiliência às atuais ameaças a identidades, terras, águas e culturas indígenas.
Precisamos de metodologias indígenas de pesquisa para compreender a relação entre o desmatamento, a mudança climática, os ciclos de colheita e os rituais dos calendários indígenas. Para resistir à municipalização da assistência médica indígena, é preciso haver pesquisas para examinar como manter um cuidadoso equilíbrio entre conhecimentos indígenas e não indígenas. Já que os Kuikuro não podem mais beber a água do Rio Xingu, precisamos questionar: por quanto tempo seus peixes continuarão a alimentar as aldeias, à medida que toxinas agrícolas e industriais poluem seus afluentes ou o próprio rio é bloqueado por barragens hidrelétricas?
Os debates começam sob as milhares de estrelas do céu do Xingu, no Planetário do Rio, enquanto se contempla as cosmologias indígenas nas constelações de cada um de nossos visitantes. Na sequência, haverá a busca de respostas para perguntas significativas. Como criar pesquisas equitativas, específicas ao um contexto e sensíveis em termos históricos, culturais e linguísticos? Como a coprodução de conhecimento entre pesquisadores indígenas e não-indígenas pode superar desequilíbrios de poder arraigados, sobre os quais nossos sistemas universitários de ensino e pesquisa são construídos?
Os conselhos de pesquisa do Reino Unido reuniram colaboradores de 12 projetos conduzidos por acadêmicos britânicos em parceria com pesquisadores indígenas de várias partes do mundo para criar um novo conjunto de diretrizes para pesquisa em universidades britânicas. Financiado pelo Global Challenges Research Fund (GCRF) – um investimento de 1,5 bilhão de libras por parte do governo do Reino Unido para criar parcerias que apoiem pesquisas de ponta para lidar com os principais desafios enfrentados por países em desenvolvimento – o seminário examina em que medida a pesquisa financiada pelo Reino Unido está sendo conduzida a partir do ponto de vista indígena e busca propor como as universidades podem garantir uma estrutura ética para pesquisas que tragam benefícios diretos a povos indígenas. Acima de tudo, vai questionar que tipo de pesquisa vale a pena conduzir e qual a melhor forma de realizá-la.
O povo Kuikuro e a Universidade Queen Mary de Londres colaboram em projetos de pesquisa financiados pelo GCRF desde 2016. Isso resultou em um programa de residências artísticas organizado pelo povo Kuikuro na Aldeia Ipatse no Alto Xingu, que reuniu mais de 20 artistas de Londres, Madrid e Rio de Janeiro.
Em contrapartida, Takumã fez um documentário que oferece uma reflexão crítica sobre modelos britânicos de multiculturalismo, e os Kuikuro colaboraram com o Museu Hornimam, em Londres, para criar uma experiência imersiva da cultura do Xingu com o uso de tecnologias de realidade virtual e aumentada.
Ao dar boas-vindas a nossos colegas de várias partes do mundo, vamos compartilhar muitas questões e esperamos ter algumas respostas. Vamos também contar histórias e refletir sobre como as narrativas que precisamos contar e ouvir estão cada vez mais ameaçadas de extinção. Estamos nos reunindo para criar e mobilizar conhecimentos.
Takumã Kuikuro é cineasta pertencente à etnia Kuikuro do Alto Xingu, Mato Grosso
Paul Heritage é Diretor da People’s Palace Projects e Professor de Artes Dramática da Queen Mary university of London