A dimensão internacional da cruzada antigênero no governo Bolsonaro
A guinada ultraconservadora na política externa brasileira do governo Bolsonaro constituiu um significativo afastamento dos pilares por meio dos quais o Brasil acumulou um capital diplomático ao longo dos anos. Não à toa, vencidas as tensas eleições, o governo Lula direciona muita energia à política externa como parte central de seu projeto de reconstrução da democracia
Os ataques às instituições democráticas, aos direitos humanos e à oposição, elementos característicos do governo Bolsonaro, não foram exclusividade da dimensão doméstica de sua política. Em nível internacional, o mandato minou o patrimônio político do país, historicamente vinculado ao multilateralismo, transformando a política externa em um catalisador para seu projeto antidireitos. A frase “O Estado é laico, mas esta ministra é terrivelmente cristã”, dita por Damares Alves ao tomar posse como ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH) do governo Bolsonaro, anunciou o que estava por vir. As políticas do governo federal romperam, por meio de sua natureza conservadora, autoritária e não laica, com alguns pilares constitucionais da democracia brasileira, inclusive em sua dimensão internacional. Damares, juntamente com Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores, foram atores centrais da cruzada internacional antigênero do governo Bolsonaro. Apesar de todos os retrocessos que essa inflexão significa, Bolsonaro explorou com sucesso um aspecto…