Jair Bolsonaro: tudo agora é pandemia, tem que acabar com esse negócio
Este artigo faz parte da série “A análise dos discursos sobre a pandemia da Covid-19” produzida pelo Grupo de Pesquisa “Discurso, Redes Sociais e Identidades Sócio-Políticas (DISCURSO)”. Nesta segunda fase da pesquisa, nos detemos na análise dos principais porta-vozes nacionais e internacionais dos discursos negacionista e científico. No presente artigo, trazemos a análise política de um dos principais porta-vozes do discurso negacionista sobre a pandemia: o atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro
Utilizando-nos do aporte teórico da Teoria do Discurso de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe, o grupo busca analisar os discursos no âmbito do acontecimento[i] da pandemia da Covid-19, no intuito de trazer algumas reflexões de como a pandemia colocaria em suspense a formação hegemônica, abrindo espaço para uma nova disputa política, tanto em sua dimensão nacional quanto internacional.
No campo da construção política de novas ideologias e identidades sociais presentes nos movimentos sociais e na própria estruturação das sociedades, a Teoria do Discurso nos serve como ferramenta que permite compreender o social e o político a partir da própria discursividade. Uma estrutura discursiva é prática articulatória, histórica e contingente que constitui e organiza as relações sociais. Todas as ações possuem um significado que é construído no campo discursivo, não havendo, então, uma separação entre discurso e prática.[ii]
A partir dessa abordagem, nas análises dos discursos sobre a pandemia da Covid-19, são utilizadas algumas categorias centrais da Teoria do Discurso, como as noções de significante vazio, ponto nodal e cadeia de equivalência, bem como a metodologia da frame analysis ou análise dos marcos cognitivos, de Snow e Benford[iii]. Metodologicamente, ao longo do texto, colocamos em itálico palavras ou significados expressos tanto nas práticas discursivas de Bolsonaro como naquelas que achamos adequadas pelo trabalho analítico em termos de seu significado e que gostaríamos de destacar.
A análise dos discursos e performances de Bolsonaro se apoiou em pronunciamentos oficiais e em seus perfis de redes sociais, além de matérias de jornais e revistas de mídias tradicionais e independentes.
O mito e o discurso negacionista: eu sou Messias, mas não faço milagres
Jair Messias Bolsonaro, 65 anos, homem branco, nascido na cidade paulista de Glicério, foi eleito presidente do Brasil em 2018, com 55,13% dos votos válidos no segundo turno pelo Partido Social Liberal (PSL), do qual se desfiliou em novembro de 2019, estando até o momento sem filiação partidária. Passou para a reserva do Exército no final da década de 1980, cumpriu mandato como vereador do Rio de Janeiro de 1989 a 1991 e sete mandatos como Deputado Federal através de outros nove partidos.
A sua campanha eleitoral contou com uma narrativa que articulava posições morais contra a política, a corrupção, o homossexualismo e o esquerdismo e a favor da redução da maioridade penal, do armamento dos cidadãos de bem e de valores cristãos da família, além da exaltação à ditadura militar e à tortura.
No seu discurso de posse, em 1º de janeiro de 2019, não fez qualquer referência a dois problemas que naquele momento já afetavam duramente o país: o desemprego de mais de 12 milhões de pessoas e o sucateamento do sistema público de Saúde, preferindo retomar seu discurso anticomunista de campanha ao prometer libertar o país do socialismo.[iv]
Em meio a uma das maiores crises econômicas das últimas décadas, seus quase dois anos de governo têm se caracterizado por um ambiente de instabilidade institucional, com denúncias de corrupção por parte de seu clã familiar, mudanças ministeriais, embates com o STF e as presidências da Câmara e do Senado e pelo grande número de militares nomeados em cargos de primeiro e segundo escalão no Executivo. O seu discurso é marcado pelo acirramento do antagonismo e ameaças às instituições democráticas, hostilização das mídias tradicionais e forte espelhamento com as estratégias de comunicação e posicionamentos ultra-conservadores do presidente dos Estados Unidos Donald Trump.
O principal canal de comunicação de Bolsonaro com a sociedade são as redes sociais, especialmente o Twitter, onde desde o início de seu mandato realiza transmissões semanais de lives diretamente de seu aparelho celular e que são dirigidas principalmente a seus apoiadores. É sobretudo utilizando-se das mídias digitais que Bolsonaro busca mobilizar seus seguidores a aderirem ao seu discurso.
Da gripezinha ao melhor país do mundo no combate à pandemia
Desde o advento da pandemia da Covid-19, Bolsonaro tem adotado um discurso que nega a gravidade da doença no país, com posicionamento contrário ao isolamento social, pela não paralisação das atividades econômicas e ataques ao lema #FicaEmCasa, além de defender o uso da cloroquina como principal forma de tratamento da doença, mesmo sem evidências científicas que comprovem a eficácia do medicamento.
Suas práticas discursivas são a principal referência da negação da gravidade da pandemia no país: fantasia quando ainda não havia mortes; histeria quando apareceu a primeira morte; o número de mortes não ultrapassará os 800 óbitos; gripezinha quando tinha 11 mortes; Deus é brasileiro, a cura tá aí, referindo-se à cloroquina quando se alcançava 136 óbitos; medinho ao alcançar 202 mortes; está indo embora quando se chegou a 1.230 mortes; não sou coveiro com 2.588 mortes; E daí? Lamento, quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagres quando questionado sobre o crescimento para 5.083 mortes; chegou no limite, não tem mais conversa com 6.759 mortes; o desemprego, a fome e a miséria serão o futuro daqueles que apoiam a tirania do isolamento total no dia em que o número de mortes chegava a 15.662; quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda tubaína debochando os críticos à sua campanha de flexibilizar o uso de cloroquina quando o país superou 1.100 óbitos num dia, alcançando o total de 17.971 mortes; qualquer negócio é Covid, supondo que os governadores estariam alterando dados para aumentar o número de infectados no dia em que 32.568 pessoas haviam morrido em decorrência do vírus.
Em maio, quando o país atingia 10.627 mortes, organizou um churrasco para 3.000 pessoas no Palácio da Alvorada que foi substituído por um passeio de moto aquática no lago Paranoá e, ao encontrar apoiadores, disse que o Brasil vive uma neurose e que 70% da população vai pegar o vírus e não tem como.
Quando a quantidade de pessoas mortas no Brasil chegou a 34.021, superando a Itália e alcançando recordes diários nos registros, o governo apagou de sua plataforma digital todos os números consolidados sobre o avanço da Covid-19, como o número total de pessoas infectadas, o número de óbitos e a curva de evolução da doença desde que foi registrado o primeiro caso no país, em fevereiro. Sobre este fato, Bolsonaro alegou que a acumulação de dados, além de não indicar que a maior parcela já não está com a doença, não retratam o momento do país. Em 11 de junho, quando o Brasil alcançava o registro de mais de 40 mil óbitos, durante live semanal, alegou que poderia haver uso político dos dados sobre a pandemia e pediu a seus apoiadores: se tem um hospital de campanha perto de você, dá um jeito de entrar e filmar. Muita gente está fazendo isso, mais gente tem que fazer para mostrar se os leitos estão ocupados ou não. O resultado foi a invasão de um hospital no Rio de Janeiro por seus seguidores, que gritavam e xingavam profissionais de saúde[v].
No dia em que eclodiram as manifestações antirracistas nos EUA, durante a realização de live semanal no Twitter, Bolsonaro bebeu um copo de leite, símbolo diretamente ligado aos extremistas brancos alt-right estadunidenses[vi]. Como fez Trump em 2016, compartilhou no Facebook um vídeo contendo a frase de Benito Mussolini melhor um dia como leão do que cem anos como ovelha.
No início de julho, declarou que havia testado positivo para a Covid-19 e uma semana após o diagnóstico, realizou outro teste com resultado positivo novamente e, desde então, passou a afirmar em vídeos exibidos nas redes sociais que a cloroquina salvou sua vida. Em 8 de agosto, o Brasil alcançou oficialmente o número de 100.000 pessoas mortas pela Covid-19 e o presidente publicou em rede social que lamenta as mortes, seja qual for a causa, apontou o isolamento social como possível causa de outras mortes, reforçou que a cloroquina salvou a sua vida e a de milhares de brasileiros e que não faltaram recursos, equipamentos e medicamentos para estados e municípios. Doze dias depois, quando se alcançava mais de 111 mil mortes, disse que o governo brasileiro foi o melhor do mundo no combate à pandemia e que sempre esteve no caminho certo, argumentando que enquanto se fechava quase tudo, no Brasil nós não paramos.
Com a abertura do comércio autorizada em junho por muitos governadores e prefeitos, Bolsonaro chegou a vetar em projeto de lei a obrigação do uso de máscara de proteção facial em órgãos públicos, estabelecimentos comerciais, escolas e templos religiosos. No final de agosto, o Congresso Nacional derrubou os vetos e o tema também havia sido encaminhado por partidos políticos de oposição ao governo ao Supremo Tribunal Federal que, por unanimidade, manteve a derrubada de vetos do presidente. Também no mês de agosto, o presidente afirmou que a eficácia da máscara na prevenção ao coronavírus é quase nula.
No início de setembro, voltou a criticar as medidas de isolamento de prefeitos e governadores, definindo-as como projetos de ditadores nanicos que apareceram pelo Brasil afora e fez novo apelo para que abrissem o comércio definitivamente. Alegou, ainda, que a OMS não tem qualquer credibilidade. Quando já se notificava mais de 125 mil pessoas mortas pela Covid-19, afirmou que tem muito médico dizendo que essa máscara não protege nada, bulhufas.
Em ocasião de uma visita ao município de Eldorado, no estado de São Paulo, chamou a atenção de uma criança que o cumprimentava, ironizando tá sem máscara? Não pode, não pode! e em seguida recomendou que a criança ficasse à vontade e retirasse a máscara, onde o uso é obrigatório.
Ainda em setembro, em visita a representantes do agronegócio no Mato Grosso, disse que os mesmos não entraram na conversinha mole de fica em casa. Isso é para os fracos! Em seu discurso proferido na 75ª Assembleia Geral da ONU, quando já se chegava a quase 139 mil mortes no Brasil e 950 mil mortes no mundo, afirmou que uma parcela da imprensa brasileira politizou o vírus, disseminando o pânico entre a população sob o lema fique em casa e a economia a gente vê depois, quase trazendo o caos social ao país.
No mês de outubro, associou o aumento de preços do arroz às medidas de isolamento, argumentando que fizeram lockdown, acabaram com os empregos, aí sobe o preço do arroz, né? Fique em casa, pô! Defendendo o agronegócio, que não parou, afirmou: Já pensou se o homem do campo tivesse ficado em casa? Não teria arroz. Na ocasião, já se somavam quase 152 mil pessoas mortas em decorrência da Covid-19 no Brasil.
Em novembro, quando o país contava com 5,7 milhões de pessoas contaminadas e 162,6 mil vidas ceifadas pela doença, além de uma segunda onda iniciada na Europa, o presidente disse que tudo agora é pandemia, tem que acabar com esse negócio, pô! Lamento os mortos. Todos nós vamos morrer um dia. Não adianta fugir da realidade. Tem que deixar de ser um país de maricas! Voltando a criticar prefeitos e governadores na restrição de atividades durante o período mais crítico da pandemia, enfatizou que o que faltou para nós não foi um líder, mas deixar o líder trabalhar. E ao ser questionado sobre a prorrogação do auxílio emergencial, respondeu: pergunta pro vírus!
Além dessas declarações e ao longo dos nove meses de pandemia, o presidente frequentemente provocou aglomerações em várias cidades de todas as regiões do país, cumprimentando apoiadores sem o uso da máscara de proteção mesmo após ter sido infectado pelo novo coronavírus.
Mais uma que Jair Bolsonaro ganha!: a politização da vacina
Outra estratégia discursiva que Bolsonaro tem utilizado é a politização da vacina. No início de junho, após ameaçar que retiraria o Brasil da OMS por viés ideológico – conforme fez Donald Trump – anunciou a parceria firmada com a indústria farmacêutica AstraZeneca e com a Universidade de Oxford no desenvolvimento de uma vacina. No mês seguinte, quando o Brasil iniciou a testagem da vacina chinesa Coronavac desenvolvida pela empresa Sinovac Biotech, solicitada pelo Instituto Butantan de São Paulo, disse a seus apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada que havia encomendado 100 milhões de unidades de Oxford e que a vacina não é daquele outro país não, tá ok, pessoal?
Em setembro, mesmo tendo sancionado lei que determina que as autoridades podem tornar obrigatória a vacinação para combater a doença, afirmou que ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina, em antagonismo às medidas do governador João Dória de tornar a vacina obrigatória no estado de São Paulo. Postou ainda, nas redes sociais, uma selfie com o seu cachorro, com a frase vacina obrigatória só aqui no Faísca.
No mês de outubro, o ministro da saúde Eduardo Pazuello anunciou em reunião com governadores a aquisição de 46 milhões de doses da vacina chinesa Coronavac do Instituto Butantan e em seguida, Bolsonaro declarou em postagem nas redes sociais que sobre a vacina chinesa de João Dória, a decisão é a de não adquirir nenhuma vacina que não fosse comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa, que o povo brasileiro não será cobaia de ninguém e mandou cancelar o acordo de intenções assinado pelo Ministério da Saúde. Dias depois, indagou não saber por que correr pela vacina, já que todo mundo diz que a vacina mais rápida levou quatro anos para ser produzida.
No início de novembro, após a morte de um dos voluntários da Coronavac –posteriormente comprovada que não teve nenhuma relação com os efeitos da vacina, a Anvisa interrompeu os estudos clínicos, e o presidente postou no Facebook a “vitória” contra o governador de São Paulo João Doria, comemorando: é mais uma que Jair Bolsonaro ganha!
Em meados de dezembro, quando se somavam 181.835 óbitos e 6.927.145 pessoas infectadas no país, foi noticiado que o presidente quer exigir assinatura de termo de responsabilidade por quem quiser se vacinar no Brasil, procedimento que não foi adotado em nenhum país do mundo. Parece que o presidente não quer que a vacina aconteça comentaram epidemiologistas, já que a medida, na prática, desencorajaria a população a tomar vacina, tanto por criar demandas burocráticas como pela apreensão adicional à guerra de desinformação contra as vacinas, engendrada por suas práticas discursivas negacionistas.[vii] Também como reação ao Supremo Tribunal Federal ter formado decidido sobre a obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19 o presidente tem voltado a atacar a vacina – particularmente a da Pfizer pelo fato de a farmacêutica não se responsabilizar por efeitos colaterais – mas ressaltando riscos fantasiosos que as pessoas poderiam correr tomando a vacina: virar jacaré ou super homem, nascer barba em mulher ou um homem começar a falar fino.[viii]
A análise do discurso de Bolsonaro sobre a pandemia
Conforme apontado, utilizaremos a metodologia da frame analysis para analisar os discursos de Bolsonaro durante a pandemia da Covid-19 a partir do enquadramento de marcos cognitivos. Um marco cognitivo é um esquema interpretativo que simplifica e condensa o mundo afora pontuando e codificando seletivamente os objetivos, situações, acontecimentos, experiências e sequências de ações dentro do entorno presente ou passado de cada pessoa. Os marcos são metáforas e representações simbólicas e podem ser definidos como discursos culturais que descrevem significados compartilhados, impulsionando as pessoas para uma mobilização.
O enquadramento dos marcos consiste então na capacidade dos grupos sociais de enlaçar ou alienar o conjunto de interesses, valores e crenças individuais com as suas atividades, objetivos e ideologias. Esse conceito é útil para analisar e avaliar a comunicação persuasiva e os esforços estratégicos conscientes realizados por grupos de pessoas ou mesmo por uma pessoa – no caso de Bolsonaro, de forma a legitimar suas propostas de ação coletiva.
Assim, utilizamos o modelo proposto por Galván (2012)[ix] na construção do enquadramento de marcos cognitivos do discurso de Bolsonaro, realizado a partir de três operações: o marco de diagnóstico, quando se identifica o problema e a injustiça que esse problema acarreta; o marco de prognóstico, quando se busca uma solução para o problema; e o marco da motivação, quando se apontam os conteúdos morais, a sua legitimação e as principais medidas que levam à mobilização e à ação coletiva.
Na análise dos marcos interpretativos do discurso de Bolsonaro sobre a pandemia da Covid-19, observa-se que no marco de diagnóstico, o problema identificado são as medidas de isolamento que foram tomadas como uma estratégia na contenção do vírus, mas que levam ao colapso econômico. Assim, a injustiça ocasionada por esse problema se destaca no desemprego, na fome, na miséria e na própria morte e que, portanto, são mais danosas do que a própria doença da Covid-19.
No marco de prognóstico, a dimensão vencedora que se sobressai consiste na necessária e urgente retomada das atividades econômicas. No traçado de fronteira, o “eles” é entendido como aqueles que se colocam a favor do isolamento social, desse fique em casa. Assim, a frase que sintetiza a proposta geral de solução para o problema apontado é o Brasil não pode parar.
Já no marco de motivação, a demarcação das qualidades morais que motivam a adesão ao seu discurso reside na necessidade de garantir a preservação de empregos, sobretudo pensando naqueles que são mais vulneráveis, como os trabalhadores informais que necessitam levar o sustento para seus filhos e arroz e feijão para casa. Agora com esse novo Brasil, as medidas do governo no combate à pandemia são excepcionais, sendo o país que melhor enfrentou essa questão. A história vai mostrar quem estava com a razão, quem não se preocupou com a sua biografia para salvar vidas. Dessa forma, o programa de ação é a continuidade da economia que poderá ser assegurada com o fim do isolamento social.
A construção do nós e eles
Na Teoria do Discurso de Laclau e Mouffe, o que confere identidade a um discurso político é a estruturação de um outro – o eles – em oposição a quem se afirma – o nós. A construção de uma identidade só se efetiva em antagonismo a uma outra identidade.
Assim, a efetividade do discurso de Bolsonaro se desdobra na construção de identidades políticas que apontam o seu pólo antagônico num eles que articula atributos e demandas negativas vinculadas àqueles que se opõem ao nós.
Uma vez que a articulação é a lógica de fixação realizada no nível político-discursivo, o discurso político que conforma os antagonismos tem a capacidade de articular as identidades múltiplas e contingentes dos sujeitos em uma cadeia de equivalências.
A partir desse entendimento, uma cadeia de equivalências é a aglutinação de diferentes demandas em torno de uma só demanda, e um significante vazio corresponde aos elementos de um discurso que, devido à sua universalização, perdem seu significado originário para se convergirem em todo um conjunto de demandas e propostas que se assentam em um só discurso.
Por fixar o fluxo das diferenças, esse discurso se constitui como uma tentativa de dominar o campo da discursividade. Assim, os pontos discursivos privilegiados nessa fixação são o que chamamos como pontos nodais.
Dessa forma, na cadeia de significados e elementos antagônicos do discurso de Bolsonaro, o eles se articula em torno do significante vazio fique em casa, ponto nodal das identidades que se antagonizam ao nós e que articula aqueles que causaram o desemprego, a fome e a miséria; governadores e prefeitos a favor do isolamento; anti-patriotas, ex-aliados e traidores; a imprensa tradicional que propaga o pânico, a histeria e o caos social; o consenso científico pautado pelas orientações da OMS; e quem defende a obrigatoriedade da vacinação.
Ao mesmo tempo, por contraste, a construção do eles permite articular e conformar politicamente um nós positivo articulado ao significante vazio O Brasil não pode parar, e que articula ao seu redor uma série de identidades e demandas que ampliam o nós e que passam a ser a referência para a rearticulação das diversas outras identidades positivas: manutenção de empregos e combate à fome; patriotas e apoiadores fiéis; empresários e industriais que garantem os empregos; trabalhadores que garantem a força de trabalho; Quem defende a não obrigatoriedade da vacinação; a imprensa independente, responsável e comprometida com a verdade e a boa ciência comprometida com os interesses da nação.
O tom do discurso: A verdade vos libertará
Bolsonaro deixa claro nas narrativas e performances o seu posicionamento de negar a periculosidade da Covid-19 e para legitimar sua estratégia discursiva negacionista, o tom do discurso é emocional, incisivo, irônico e até mesmo agressivo. Na maioria das vezes, busca atrair a atenção daqueles que seriam os mais prejudicados pelas medidas de isolamento social e pela crise econômica: as pessoas mais pobres, especialmente aquelas que estão acometidas pelo desemprego e a informalidade.
Em seus perfis nas redes sociais, os vídeos são compartilhados em tom comovente e dramático, em que muitas vezes são citados versículos bíblicos – sobretudo aquele que foi também o mote de sua campanha eleitoral, em João, 8:32: E conhecereis a verdade. E a verdade vos libertará – numa estratégia de mobilizar para a adesão a seu discurso a partir de uma ideia de verdade que transcende a razão encarnada no mito do líder.[x]
Com a evolução da pandemia e o aumento de casos fatais, suas falas evoluíram para um tom ainda mais apelativo que continua deslocando a atenção da gravidade da pandemia para o problema do desemprego causado e intensificado pelo lema do “fique em casa”, apelando até mesmo para uma vitimização: A minha vida aqui é uma desgraça, problema o tempo todo. Não tenho paz para nada! Não posso mais tomar um caldo de cana na rua, comer um pastel!
Bolsonaro não tem culpa pelas 181 mil mortes: a ampliação da adesão ao discurso
No artigo As mídias, a reprodução dos discursos negacionista e científico e a reconfiguração política em curso[xi], publicado em julho pelo Grupo de Pesquisa DISCURSO, trouxemos a reflexão de como a disputa de discursos se reproduz nas mídias tradicionais e sociais, identificando o surgimento de uma digitalização do populismo e caracterizando a disputa dos discursos negacionista e científico em ambas mídias e a reconfiguração política expressa em pesquisas de opinião.
Buscando tecer uma breve reflexão sobre a dinâmica da adesão ao discurso de Bolsonaro sobre a pandemia e a sua relação com a disputa pela hegemonia, nos serviremos das pesquisas de opinião mencionadas no artigo sobre mídias e das pesquisas do Instituto de Pesquisas Datafolha realizadas em agosto e em dezembro de 2020.
No que se refere ao perfil de apoiadores do presidente[xii], em agosto de 2019, o Datafolha buscou constatar quem eram os mais fiéis dentre os seus eleitores e quem eram os apoiadores críticos. Entre os primeiros, a maioria eram homens e brancos e entre os apoiadores críticos, a maioria eram mulheres e brancos. Quase um ano depois, em pesquisa realizada em julho de 2020 pelo Instituto Paraná Pesquisas[xiii], a aprovação da administração do presidente também era maior entre o sexo masculino. No que diz respeito às regiões do país, a aprovação era maior no Norte e Centro Oeste e menor no Nordeste. Chama a atenção uma razoável desaprovação entre o segmento mais jovem, de 16 a 24 anos. Já em pesquisa realizada em julho pelo Instituto Travessia[xiv], constatou-se que o retrato do bolsonarista padrão era homem, morador da Região Sudeste, com idade a partir de 45 anos, renda acima de dez salários mínimos e evangélico.
O trabalho de Esther Solano e Camila Rocha[xv], que envolveu entrevistas com eleitores do presidente, realizadas durante o mês de maio de 2020, buscou mapear as principais narrativas em torno da avaliação do presidente no enfrentamento à pandemia. As pesquisadoras constataram que a maioria dos entrevistados não consideram a Covid-19 somente uma gripezinha, porém, o medo da doença acompanhava o medo do desemprego e da piora da economia, de modo que a dicotomia saúde/economia não conseguiu ser superada por eles. As pesquisadoras identificaram três grupos de entrevistados: 1) os fiéis, aqueles que mantêm um apoio constante ao presidente; 2) os apoiadores críticos; e 3) os arrependidos, que se decepcionaram com o presidente e desejavam que este abandonasse o cargo.
Os principais fatores para o enfraquecimento do bolsonarismo identificados com a pesquisa foi a percepção do comportamento de Bolsonaro durante a pandemia como denotando falta de caráter e de humanidade, as suspeitas de corrupção e o comportamento inapropriado dos filhos. Por outro lado, mesmo que o desgaste da imagem do presidente existisse, o apoio da maioria de seus eleitores persistia. Uma das razões que explica esse fato é que boa parte das pessoas entrevistadas enxergava o presidente como alternativa viável contra o PT em eleições futuras. Logo, havia um sentimento generalizado de frustração e de desamparo frente às opções políticas existentes no país, o que fazia com que seus apoiadores críticos e arrependidos cogitassem novamente o apoio a Bolsonaro, por falta de uma alternativa melhor.
Cabe observar que as tendências que diversas pesquisas de opinião apontaram sobre Jair Bolsonaro se mostraram de formas diferentes durante três momentos. No primeiro, quando as pesquisas ocorreram no início da pandemia, nota-se um aumento de avaliações polarizadas, ou seja, as avaliações ótima/boa e ruim/péssima cresceram, enquanto as avaliações regulares e de indecisos caíram.
Já num segundo momento, que compreendeu o período de março a julho de 2020, houve uma variação baixíssima da base de apoiadores do presidente, tendo em vista que os que o avaliaram como ótimo/bom não saíam da casa dos 30%, enquanto a avaliação ruim/péssima cresceu significativamente. Isso sugere afirmar que, apesar da pandemia, Bolsonaro manteve o apoio dos seguidores mais apaixonados, mas, ao mesmo tempo, sua rejeição cresceu bastante.
E no terceiro momento, observa-se que a partir do mês de agosto, houve um aumento da avaliação positiva, uma diminuição da avaliação negativa e um aumento do número da avaliação regular e de indecisos. Porém, as eleições municipais, como mostraremos à frente, apresentam indícios de que esta última tendência deve reverter.
Duas pesquisas de opinião realizadas pela Vox Populi em abril e durante o final de junho e início de julho de 2020, que levaram em conta estratificações de regiões, renda e escolaridade, ajudam a aprofundar a análise sobre quem são os apoiadores e os opositores de Bolsonaro. A partir desses resultados, constatou-se que a base de apoio do presidente continuava forte na região Sul do país, mas aumentou no Nordeste, considerando que esta região integra a base do lulismo. Em relação à escolaridade e renda, nota-se que o presidente possuía maior reprovação entre os que possuem ensino superior e renda média. Outra constatação importante é a de que a sua aprovação aumentou entre os que possuem até o ensino fundamental, em relação ao que era no período anterior à pandemia. O mesmo aconteceu quando se verifica a avaliação do presidente a partir do estrato de renda baixa.
Na pesquisa realizada pelo Datafolha entre os dias 8 e 10 de dezembro[xvi], houve um aumento na avaliação positiva tanto da gestão do presidente – a melhor avaliação desde o início do mandato, com 37% – como da isenção de responsabilidade de Bolsonaro pelas mortes de Covid-19, com 52% das pessoas entrevistadas afirmando que o presidente não tem nenhuma culpa pelas mais de 181 mil mortes registradas. Observa-se, ainda, que houve um aumento da base de apoio na região Nordeste e em pessoas menos escolarizadas e com renda de até dois salários-mínimos em comparação às pesquisas anteriores.
Esse cenário nos leva a refletir sobre uma mudança da base de apoio do presidente, que agora abrange pessoas das classes mais baixas e em condições econômicas limitadas em um contexto de agravamento do desemprego. Diante dos impactos da pandemia, ficaram mais sensíveis às práticas discursivas do presidente, priorizando eixos como acesso à renda e manutenção de empregos e principalmente de postos de trabalho informais e, nesse sentido, o auxílio emergencial e a abertura total do comércio e demais setores são elementos centrais para a ampliação e manutenção da adesão ao discurso do presidente.
Por outro lado, as camadas médias e com ensino superior parecem ter sido mais críticas ao discurso negacionista do presidente em relação ao combate à pandemia da Covid-19. Além do discurso negacionista, outras possíveis razões para o aumento da rejeição a Bolsonaro no período de realização das pesquisas são o aumento diário do número de mortes por Covid-19, as demissões de diversos ministros com popularidade entre essas camadas, como Sérgio Moro e Luiz Henrique Mandetta, a divulgação do vídeo de reunião ministerial que ocasionou na saída de Moro, a prisão de Fabrício Queiroz, o inquérito sobre fake news no STF e a tentativa de aproximação do presidente com o “centrão” associado à corrupção.
As eleições municipais de 2020 também podem ser vistas como termômetro da aprovação do presidente, com as ressalvas de que as disputas locais possuem dinâmicas diferentes das eleições nacionais. Mesmo assim, dos treze candidatos à prefeitura apoiados e recomendados pelo presidente, somente dois se elegeram: em Ipatinga – MG e Parnaíba – PI[xvii]. Chama a atenção o desempenho nulo de bolsonaristas nas principais capitais do país. Quando os resultados ainda começavam a ser divulgados pelos veículos do TSE, no dia 13/11, Bolsonaro excluiu uma postagem no Facebook em que recomendava candidatos a prefeitos e vereadores.[xviii]
Assim, é possível afirmar que as razões que levam tanto ao aumento quanto à diminuição da popularidade de Bolsonaro perpassam a pandemia. Apesar das externalidades, os elementos ligados direta ou indiretamente ao discurso negacionista do presidente no enfrentamento à Covid-19 ainda se constituem como principais causas das reconfigurações em curso, seja em relação à mudança do perfil de apoiadores ou às antigas alianças que foram desfeitas e novas alianças criadas.
Dessa forma, vale lembrar que o bolsonarismo não é um fenômeno eleitoral[xix] que se mede pelo número de votos que ele angaria para si. O bolsonarismo é maior que o próprio Bolsonaro[xx], sendo um movimento que se propõe a entender e se comunicar com os sentimentos das pessoas comuns que ainda depositam no líder suas últimas esperanças de proteção e mudança social.
Concluindo: já está no finalzinho…
O discurso do presidente sobre a pandemia da Covid-19 se destaca pela naturalização, pela indiferença e especialmente pela negação da trágica situação sanitária no Brasil que, no momento em que concluímos este artigo, já se registram quase 200 mil vidas ceifadas pelo novo coronavírus. Com uma narrativa que é capaz de criar determinada realidade a partir da articulação entre fake news e pós-verdades, Bolsonaro busca fazer com que a crença nessa realidade seja legitimada tal como suas práticas discursivas a constroem.
Trata-se de um discurso que aposta na emoção como ferramenta de adesão, em que a fé cristã se mescla com o ódio, a intolerância e a indiferença à morte em um jogo estritamente apaixonante. Insultos a jornalistas, deboches sobre os cuidados de prevenção, incentivos a aglomerações e apologia à cloroquina ecoam num tom apelativo que se subordina à razão. Soma-se a isso a estratégia discursiva de politizar as medidas de contenção da pandemia, sobretudo da vacina, e da dicotomização entre economia e saúde.
Nesse sentido, o discurso de Bolsonaro vem abrindo o campo de disputa de narrativas, permitindo dar visibilidade às estratégias discursivas de seus antagonistas, atribuindo-lhes, dessa forma, maior capital político – como no caso de João Dória. Ao mesmo tempo, cria fissuras nos blocos de poder formados por ex-aliados, como Moro, Mandetta, Witzel e Caiado. Nessa perspectiva, a vacina se coloca como elemento central que certamente irá acirrar a disputa política entre os discursos negacionista e científico, podendo colocar a hegemonia em suspensão.
Mesmo com o Brasil ocupando o segundo lugar no ranking de países com o maior número de óbitos[xxi]; os 7 milhões de testes estocados em depósito prestes a vencer[xxii]; o tardio anúncio de um plano nacional de vacinação sem data para início da imunização[xxiii]; a produção dos ineficientes 1,8 milhões de comprimidos de cloroquina pelo Exército[xxiv]; a denúncia por crimes contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional de Haia[xxv]; os R$ 88 milhões gastos pelo Ministério da Saúde em propagandas que não mencionam as medidas de prevenção preconizadas pela OMS[xxvi]; a não utilização dos R$ 3,4 bilhões em de verba emergencial[xxvii] para o enfrentamento da pandemia; e o alerta sobre risco de colapso no sistema de saúde em todo o território nacional[xxviii], Bolsonaro insiste em afirmar que as propostas apresentadas pelo governo no combate à Covid-19 foram excepcionais e que a pandemia já está no finalzinho.
Após a total flexibilização do comércio, de bares e de restaurantes e as eleições municipais, tanto o número de pessoas infectadas como de mortes voltou a crescer de forma vertiginosa a partir do final de novembro e, ainda assim, parece ser vivenciada como uma gripezinha para muitas pessoas: praias lotadas[xxix], aglomerações em pontos de comércio para compras de natal[xxx], crescimento inédito do turismo[xxxi] e relaxamento no uso da máscara[xxxii] são alguns exemplos.[xxxiii]
O crescimento de pessoas que se recusam a tomar vacina e da desconfiança em relação à Coronavac[xxxiv] desenvolvida pelo Instituto Butantã em parceria com o laboratório chinês Sinovac pode ser também outra consequência da prática discursiva negacionista do presidente.[xxxv]
Diante disso, em que medida as práticas e estratégias discursivas de Bolsonaro conseguiram impulsionar as pessoas para uma mobilização a tal ponto de naturalizarem e negarem a gravidade da pandemia? A narrativa do presidente foi capaz de agregar as insatisfações e frustrações da população ocasionadas pelas medidas de isolamento social em torno do significante vazio o Brasil não pode parar?
A situação atual parece apontar para uma resposta afirmativa, já que vivenciamos um cenário em que os nexos normativos e regulatórios que conectam a vida social ao mundo público são dissolvidos e as interações humanas passam a ser governadas pelas vontades, instintos e pulsões, em que liberar é o mote central[xxxvi]. Isso nos revela que os esforços estratégicos de Bolsonaro vêm conseguindo legitimar, com seu discurso, propostas de ação coletiva que se materializam na perspectiva pessimista de um necro-neoliberalismo em que os mais atingidos são as mesmas raças, os mesmos gêneros e as mesmas classes sociais de sempre[xxxvii].
O Brasil, de fato, não parou. Transcendendo a razão e encarnando o mito do líder – e se este é o chefe da nação e o representante que garante a unidade desse nexo informal e libertário, vamos, cada vez mais, deixando de ser um país de maricas rumo às 200 mil vidas perdidas. E daí?
Liza Uema, Jorge O. Romano, Myriam Martinez dos Santos, Renan Alfenas de Mattos, Thais Ponciano Bittencourt, Paulo Augusto André Balthazar, Annagesse de Carvalho Feitosa, Eduardo Britto Santos, Juanita Cuéllar Benavides, Daniel Macedo Lopes Vasques Monteiro, Daniel S.S. Borges, Ricardo Dias, Ana Carolina Aguiar Simões Castilho, Caroline Boletta de Oliveira Aguiar, Érika Toth Souza, Juana dos Santos Pereira, Larissa Rodrigues Ferreira, Pamella Silvestre de Assumpção e Vanessa Barroso Barreto são pesquisadoras e pesquisadores do grupo de pesquisa “Discurso, Redes Sociais e Identidades Sócio-Políticas (DISCURSO)” vinculado ao Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento Agricultura e Sociedade e ao Curso de Relações Internacionais do DDAS/ICHS da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, registrado no CNPq e com apoio de ActionAid Brasil.
[i] HAN, Byung-Chul. La Emergência viral e el mundo de mañana. Disponível em: https://dialektika.org/wp-content/plugins/algori-pdf-viewer/dist/web/viewer.html?file=https%3A%2F%2Fdialektika.org%2Fwp-content%2Fuploads%2F2020%2F04%2FSopa-de-Wuhan-ASPO.pdf
[ii] LACLAU, Ernesto e MOUFFE, Chantal. Hegemonía y estrategia socialista. Hacia una radicalización de la democracia. Madrid: Siglo XXI, 1987.
[iii] SNOW, David. BENFORD, Robert. Ideology, Frame Resonance and Participant Mobilization. In: Klandermans, B., Kriesi, H. e Tarrow, S. (eds.) From Structure to Action: Comparing Social Movement Research across Cultures. Greenwich: JAI Press, 1988.
[iv] BETTO, Frei. O diabo na corte: leitura crítica do Brasil atual. São Paulo: Cortez, 2020.
[v] CERQUEIRA, Sofia. Invasão em hospital para Covid-19 põe profissionais da saúde em alerta. Veja, 13 jun. 2020. Disponível em: https://veja.abril.com.br/brasil/invasao-em-hospital-para-covid-19-poe-profissionais-da-saude-em-alerta/
[vi] Apesar do presidente dizer que estaria cumprindo um desafio de ruralistas, pesquisadores enxergam uma correlação do gesto com movimentos neonazistas – que adotam o copo de leite como símbolo. Para Adriana Dias, que é doutora em antropologia social pela Unicamp e que há anos pesquisa o fenômeno do nazismo, há uma referência clara entre o episódio e o neonazismo. “O leite é o tempo todo referência neonazi. Tomar branco, se tornar branco. Ele vai dizer que não é, que é pelo desafio, mas é um jogo de cena, como eles sempre fazem”, declarou à Revista Fórum. Disponível em: https://revistaforum.com.br/politica/copo-de-leite-bolsonaro-usa-simbolo-nazista-de-supremacia-racial-em-live/
[vii] JORNAL DA GLOBO. Bolsonaro quer exigir termo de responsabilidade de quem for vacinado no Brasil; especialistas criticam. G1, 15 dez. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/bemestar/vacina/noticia/2020/12/15/bolsonaro-quer-exigir-termo-de-responsabilidade-de-quem-for-vacinado-no-brasil-especialistas-criticam.ghtml
[viii] Disponível em: https://revistaforum.com.br/politica/em-critica-a-pfizer-bolsonaro-diz-que-pessoas-podem-virar-jacare-se-tomarem-vacina/
[ix] GALVÁN, I. E.: La lucha por la hegemonía durante el primer gobierno del MAS en Bolivia (2006-2009): un análisis discursivo. Madrid: Universidad Complutense, tesis de doctorado, 2012.
[x] Para o historiador Federico Finchelstein (2020), o uso da palavra “verdade” para promover a mentira em nome de Deus é importante para se pensar a ideia bolsonarista de que a verdade liberta. Ele associa essa estratégia discursiva àquela utilizada pelo fascismo, em que a mentira que o líder diz é apresentada como a mais absoluta verdade. Os fascistas viam no líder encarnado uma verdade que transcendia os fatos, mas tanto o líder como seus seguidores também manipulavam os fatos para criar uma verdade mais elevada, apropriando-se de metáforas e pensamentos religiosos. FINCHELSTEIN, F. O líder fascista como encarnação da verdade. In: Revista Serrote, edição especial, jul. 2020. Disponível em: https://www.revistaserrote.com.br/wp-content/uploads/2020/07/serrote-especial-em-quarentena.pdf
[xi] ROMANO et al. As mídias, a reprodução dos discursos negacionista e científico e a reconfiguração política em curso. Le Monde Diplomatique Brasil, 23 jul. 2020. Disponível em: https://diplomatique.org.br/as-midias-a-reproducao-dos-discursos-negacionista-e-cientifico-e-a-reconfiguracao-politica-em-curso/
[xii] G1. Apoiadores mais fiéis de Bolsonaro chegam a 12% da população e críticos somam 30%, diz Datafolha. G1, 04 set, 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/09/04/apoiadores-mais-fieis-de-bolsonaro-chegam-a-12percent-da-populacao-e-criticos-somam-30percent-diz-datafolha.ghtml
[xiii] O sexo masculino possui 53,3% de aprovação e 42,5% de desaprovação; o sexo feminino aprova em 41,6% dos casos e desaprova em 53,1%; entre o segmento de 16 a 24 anos de idade, a aprovação é de 40,9%, enquanto a desaprovação é de 54,6%. Na região Nordeste, a aprovação é de 39,4%, e a desaprovação é de 56,8%; nas regiões Norte + Centro-Oeste, a aprovação é de 53,6%, e a desaprovação é de 42,2%. Disponível em: https://static.poder360.com.br/2020/07/paranapesquisa-jul-2020.pdf
[xiv] RYDLEWSKI, Carlos. O que pensam os bolsonaristas. Valor Econômico, 17 jul. 2020. Disponível em: https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2020/07/17/o-que-pensam-os-bolsonaristas.ghtml
[xv] SOLANO, Esher. ROCHA, Camila. Bolsonarismo em crise? FRIEDRICH-EBERT-STIFTUNG, São Paulo, 2020. Disponível em: https://www.fes-brasil.org/detalhe/bolsonarismo-em-crise/.
[xvi] AMÂNCIO, Thiago. Maioria isenta Bolsonaro por mortes na pandemia, aponta Datafolha. Folha S. Paulo, 13 dez. 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/12/maioria-isenta-bolsonaro-por-mortes-na-pandemia-aponta-datafolha.shtml
[xvii] GZH. Dos 13 candidatos a prefeituras apoiados por Bolsonaro, 11 não se elegeram no país. GZH, 29 nov. 2020. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/eleicoes/noticia/2020/11/dos-13-candidatos-a-prefeituras-apoiados-por-bolsonaro-11-nao-se-elegeram-no-pais-cki3tnkov006p014nzrpm0ma0.html
[xviii] BBC. Eleições municipais 2020: como se saíram os candidatos apoiados por Bolsonaro em post apagado no Facebook. BBC, 16 nov. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54963598.
[xix] MENDES, Vinícius. O bolsonarismo não é só um fenômeno eleitoral. Le Monde Diplomatique Brasil, 11 dez. 2020. Disponível em: https://diplomatique.org.br/o-bolsonarismo-nao-e-so-um-fenomeno-eleitoral/
[xx] SCERB, Philippe. Com vocação popular, o bolsonarismo é maior que Bolsonaro. Le Monde Diplomatique Brasil, 14 set. 2020. Disponível em: https://diplomatique.org.br/com-vocacao-popular-o-bolsonarismo-e-maior-que-bolsonaro/
[xxi] LICHOTTI et al. Taxa de mortes por COVID-19 no Brasil é equivalente à dos Estados Unidos. Piauí, 15 dez. 2020. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/taxa-de-mortes-por-covid-19-no-brasil-e-equivalente-dos-estados-unidos/
[xxii] METROPÓLES. Quase 7 milhões de testes para Covid-19 prestes a vencer podem ir para o lixo. Metropóles, 22 nov. 2020. Disponível em: https://www.metropoles.com/brasil/quase-7-milhoes-de-testes-para-covid-19-prestes-a-vencer-podem-ir-para-o-lixo
[xxiii] GARRET JR., Gilson. Sem data, Ministério da Saúde apresenta plano de vacinação contra covid-19. Exame, 16 dez. 2020. Disponível em: https://exame.com/brasil/sem-data-ministerio-da-saude-apresenta-plano-de-vacinacao-contra-covid-19/
[xxiv] VARGAS, Mateus. Exército tem 1,8 milhão de comprimidos de cloroquina ainda estocados e não projeta ampliar produção. Estadão, 25 jun. 2020.. Disponível em: https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,exercito-tem-1-8-milhao-de-comprimidos-de-cloroquina-ainda-estocados-e-nao-projeta-ampliar-producao,70003344866#:~:text=O%20Ex%C3%A9rcito%20informou%20ao%20Estad%C3%A3o,%3A%20R%24%201%2C304%2C00
[xxv] CHADE, Jamil. Bolsonaro é denunciado em Haia por genocídio e crime contra humanidade. UOL, 27 jul. 2020. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/07/26/bolsonaro-e-denunciado-no-tribunal-de-haia-por-crimes-contra-humanidade.htm?cmpid=copiaecola
[xxvi] JUNQUEIRA, Diego. Com Pazuello, Saúde gasta R$ 88 milhões em propagandas de covid-19 que ignoram prevenção e exaltam até agronegócio. Repórter Brasil, 03 dez. 2020. Disponível em: https://reporterbrasil.org.br/2020/12/com-pazuello-saude-gasta-r-88-milhoes-em-propagandas-de-covid-19-que-ignoram-prevencao-e-exaltam-ate-agronegocio/
[xxvii] CARTA CAPITAL. Governo não usa R$ 3,4 bilhões de verba emergencial para combate à pandemia. Carta Capital, 27 nov. 2020. Disponível em:https://www.cartacapital.com.br/saude/governo-nao-usa-r-34-bilhoes-de-verba-emergencial-para-combate-a-pandemia/
[xxviii] BARIFOUSE, Rafael. Covid-19: com epidemias ‘sincronizadas’ no interior e capitais, Fiocruz vê risco de colapso na saúde após festas de fim do ano. BBC, 9 dez. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55239363
[xxix] ALVES, Schirlei; POTTER, Hyuri. Covid-19: entre baladas e praias lotadas, Santa Catarina vive pior momento na pandemia. BBC, 8 dez. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55213954
[xxx] ISTOÉ DINHEIRO. Aglomeração para compras dá ao Brás a 2ª maior taxa de mortes por covid na Capital. Istoé Dinheiro, 11 dez. 2020. Disponível em: https://www.istoedinheiro.com.br/pense-antes-de-ir-no-bras-2a-maior-taxa-de-mortes-por-covid-na-capital/
[xxxi] MINISTÉRIO DO TURISMO. Página Inicial. Disponível em: <https://www.gov.br/turismo/pt-br>. Acesso em: 17 dez 2020.
[xxxii] GALDINO, Renata. População ignora máscara de proteção e risco da Covid-19 cresce em Belo Horizonte. Hoje em Dia, 19 nov. 2020. Disponível em: https://www.hojeemdia.com.br/horizontes/popula%C3%A7%C3%A3o-ignora-m%C3%A1scara-de-prote%C3%A7%C3%A3o-e-risco-da-covid-19-cresce-em-belo-horizonte-1.812597
[xxxiii] CABRAL, Umberlândia. Cai para 33,8 milhões o número de pessoas rigorosamente isoladas na pandemia. Agência IBGE, 09 out. 2020. Disponível em:
[xxxiv] AGÊNCIA O GLOBO. Cresce número de brasileiros que não pretendem tomar vacina contra Covid-19. IG, 12 dez. 2020. Disponível em: https://saude.ig.com.br/coronavirus/2020-12-12/cresce-numero-de-brasileiro-que-nao-pretendem-tomar-vacina-contra-covid-19.html
[xxxv] Neste aspecto, a estratégia discursiva de Bolsonaro que busca mobilizar as pessoas para um boicote à vacina vem se distanciando de Donald Trump, que, contraditoriamente ao seu discurso também negacionista sobre a pandemia, iniciou em dezembro uma campanha nacional de vacinação nos EUA com a previsão de vacinar 20 milhões de pessoas em um mês. No dia 14 de dezembro, a primeira pessoa estadunidense a ser vacinada foi Sandra Lindsay, uma mulher negra, que é enfermeira em Nova Iorque. Minutos antes de Sandra ser vacinada, Trump publicou no Twitter: “Primeira vacina administrada. Parabéns, EUA! Parabéns, MUNDO!”. Disponível em: https://twitter.com/realDonaldTrump/status/1338490171801661441
[xxxvi] Liberação de garimpo em terras indígenas, acesso a armas e munições em escalas inauditas, aceleração de desmatamentos e em todas essas frentes, multiplica-se o sujeito dessa liberdade natural, que busca exercê-la sem as amarras típicas do processo civilizador, da autocontenção e do reconhecimento de uma esfera pública que qualifica e limita os danos que podemos infringir aos demais. LESSA, Renato. Homo Bolsonarus. In: Revista Serrote, edição especial, jul. 2020. Disponível em: https://www.revistaserrote.com.br/wp-content/uploads/2020/07/serrote-especial-em-quarentena.pdf
[xxxvii] A necropolítica foi tema abordado no artigo Tempo de Pachakuti: o que será de “nós” e o que será do “eles” no momento populista?, publicado pelo Grupo de Pesquisa DISCURSO no Le Monde Diplomatique Brasil em agosto de 2020. O artigo pode ser acessado em: https://diplomatique.org.br/tempo-de-pachakuti-o-que-sera-de-nos-e-o-que-sera-do-eles-no-momento-populista/