13ª Mostra Ecofalante destaca filmografia brasileira invisibilizada
Além de dar visibilidade para os sonhos e as reflexões de jovens cineastas do Brasil inteiro, o festival exibe obras históricas de Werner Herzog, Sara Gómez, Marta Rodríguez e Margot Benacerraf
Começou ontem (01), em São Paulo, a 13ª edição da Mostra Ecofalante. Com sessões espalhadas em 21 salas de cinema paulistanas até dia 14 de agosto, o festival versa sobre as questões socioambientais através da exibição de 122 filmes, representando 24 países, além de debates e encontros com cineastas.
Para abrir o festival, foi selecionado O Fogo Interior, de Werner Herzog. Segundo Chico Guariba, diretor da Mostra, “o filme sintetiza a relação entre homem e natureza” através de um espetáculo de imagens que homenageiam não apenas os vulcanólogos que protagonizam o documentário, mas também o fazer cinematográfico. O apaixonado réquiem do diretor alemão celebra a carreira de Katia e Maurice Krafft, um casal que deu a vida para estudar e filmar vulcões até serem mortos por um. Uma das mais importantes obras do cinema contemporâneo, O Fogo Interior será reexibido no dia 10 de agosto, no Reserva Cultural.
Também destaca-se, na programação desta edição da Mostra, a exibição de três filmes de grandes cineastas latino-americanas que, antes esquecidas pela história, voltam aos cinemas em versões restauradas. Serão exibidos filmes da cubana Sara Gómez, da colombiana Marta Rodríguez e da venezuelana Margot Benacerraf, “três pioneiras do cinema documental na América Latina cujas obras cabe à Ecofalante trazer ao público, na medida em que eles tratam de temas socioambientais,” como define Guariba.
Exibido no Festival de Cannes, De Certa Maneira (1977), de Gómez, discute questões de raça e de classe através de um enredo que se passa nos bairros pobres de Havana logo após a Revolução Cubana de 1959. Já Araya, Inferno de Sal (1959), de Benacerraf, reúne três histórias ambientadas em Araya, península no nordeste da Venezuela conhecida como uma das regiões mais áridas do planeta, marcada pela exploração do sal. O filme ganhou as telas dos festivais de Berlim, Locarno e Cannes. Por sua vez, Amor, Mulheres e Flores (1984), de Rodríguez e Jorge Silva, uma das atrações dos Cannes Classics do Festival de Cannes do ano passado, focaliza histórias de vida e amor em meio a reivindicações dos trabalhadores da plantação de flores.
O objetivo do festival, no entanto, vai muito além de exibir filmes já conhecidos pelo público e pela crítica. Destacam-se, na Mostra Ecofalante deste ano, as representações de um Brasil invisibilizado pelos grandes festivais de cinema, dando voz à produção jovem que perpassa os diferentes territórios do país.
Em edição inaugural, a mostra competitiva Territórios e Memória selecionou um total de 27 filmes brasileiros, representando 11 estados e o Distrito Federal. O diretor do festival explica: “a mostra nasceu após identificarmos na filmografia brasileira uma grande produção que não participava de festivais, uma produção invisível – ou invisibilizada – que é fundamental para entender os territórios e a história brasileira, a realidade do interior do vasto Brasil.” Na programação estão os longas À Margem do Ouro, de Sandro Kakabadze; Anhangabaú, de Lufe Bollini; Black Rio! Black Power!, de Emilio Domingos; Eskawata Kayawai (O Espírito da Transformação), de Lara Jacoski e Patrick Belem e muito mais. A seleção também inclui curtas como A Bata do Milho, de Eduardo Liron e Renata Mattar, e A Chuva do Caju, de Alan Schvarsberg, entre outros.
Outra iniciativa de destaque da Mostra é o Concurso Curta Ecofalante, que exibe 25 filmes de curta duração realizados em cursos e oficinas audiovisuais. Entre curtas produzidos por universidades de São Paulo, Alagoas, Minas Gerais, Paraíba, Rio de Janeiro, Santa Catarina e do Recôncavo Baiano, destaca-se uma nova forma de enxergar o desenvolvimento sustentável e sua relação com o fazer cinematográfico. Chico Guariba finaliza: “esses jovens cineastas estão discutindo questões do mundo contemporâneo à sua maneira. Sua visão e sua linguagem vislumbram possibilidades de diálogo muito interessantes com a sociedade. É muito legal ver os sonhos desses jovens e suas reflexões sobre problemas da realidade contemporânea. Criamos essa janela de exibição para dar visibilidade para esses novos filmes e cineastas.”
Saiba mais sobre a programação da 13ª Mostra Ecofalante no site do festival. As sessões são gratuitas e ocorrem em diferentes cinemas de São Paulo.
Carolina Azevedo é parte da equipe do Le Monde Diplomatique Brasil.