Na França, a verdade continua bloqueada
Nos últimos meses, dois relatórios estabeleceram a responsabilidade acachapante da França e de François Mitterrand no genocídio dos tútsis em Ruanda em 1994. Essa cumplicidade é reflexo da história ou um simples arranjo político pontual entre os países? Na França, o controle do acesso aos arquivos constituiu um entrave para a busca por respostas
“Responsabilidades esmagadoras”: em 26 de março de 2021, após dois anos de trabalhos, a Comissão de Pesquisa sobre os Arquivos Franceses Referentes a Ruanda e ao Genocídio dos Tútsis (1990-1994), chefiada pelo historiador Vincent Duclert, lançou nova luz sobre a ação da França nesse pequeno país da África dos Grandes Lagos. Ainda assim, zonas de sombra persistem por motivo do segredo que rodeia a política africana de Paris e da dificuldade de acesso aos documentos oficiais da época. Os militares envolvidos estão hoje desobrigados do dever de sigilo, mas o acesso aos arquivos continua dependente de autorizações excepcionais. O Código do Patrimônio (artigo L. 213-4) impede a abertura dos referentes ao Executivo (presidência e governo) durante pelo menos 25 anos. Porém, segundo o jurista Bertrand Warusfel, a maior parte dos segredos, mesmo militares, perde importância ao fim de dez ou quinze anos.1 Os pesquisadores podem, é certo, pleitear exceções, mas…