Na Itália, a linguagem dupla de Giorgia Meloni
Em visita a Bruxelas, Giorgia Meloni apresentou suas credenciais: a primeira-ministra italiana promete respeitar os tratados europeus, cumprir o dogmatismo com rigor, apoiar a Ucrânia a todo custo… Posições que ela combina com o ultraconservadorismo autoritário em questões sociais. Porém, isso interessa menos às autoridades da União Europeia
“Se os italianos votaram em Giorgia Meloni, isso não significa que desejam a volta do fascismo, mas, bem ao contrário, que a consideram impossível.”1 O autor dessa frase, o psicanalista Massimo Recalcati, gosta de paradoxos. Mas não se pode negar-lhe uma parcela de verdade. O sucesso dos Fratelli d’Italia [Irmãos da Itália] nas eleições legislativas de 25 de setembro provocou inúmeras (e legítimas) reações indignadas e condenações morais, com muita gente alarmada ante o surgimento do “pós-fascismo” no país. Em 1994, Silvio Berlusconi já associava seu governo à extrema direita, com a Aliança Nacional de Gianfranco Fini e a Liga do Norte (então regionalista) de Umberto Bossi. Mas, na época, a relação de forças era favorável à direita clássica. A hegemonia agora mudou de campo. Já se passaram vinte anos de vida política impregnada de um “berlusconismo” que glorifica o individual e relega o coletivo (em nome de um anticomunismo…