Nada de novo
Ricardo Miyake
Esta cidade de veias escuras
Arrasta consigo pessoas idem:
Apenas uma e outra ainda riem
Mas não sabe de quê, ou quem.
Nem por quê. Acresce levarem
Junto ao corpo os farrapos
Do que um dia foram e seus olhos
Mirarem um ponto além ou aquém,
Mas estão sempre felizes,
E isso, ao cabo, é o que sobra
Depois do esforço cotidiano
De se arrastar em ônibus cheirando a vômito
Em troca de um feijão com arroz pastoso
E gente mais ou menos igual.
O dia nasceu há pouco, e o sol
Promete mais odores de dentro dos esgotos.
Mas nada há de novo:
Pessoas, cidade, feijão, arroz e vômitos
Têm todos precisamente o mesmo gosto.