Nem todos morriam, mas todos estavam doentes
Os “desertos médicos” são uma realidade já bem documentada na França: estão principalmente nas zonas rurais e nos arredores das grandes metrópoles. Porém, a desigualdade geográfica do acesso aos cuidados é agravada pelas desigualdades sociais, um fato muitas vezes omitido. Um exemplo é Ardèche, departamento do sul da França
“Minha saúde?” Sentada à sombra de um plátano em Privas, município do departamento de Ardèche, no sul da França, Émilie1 se desfaz em lágrimas. “É simples. Faz tempo que os raros dentistas ainda instalados na cidade não aceitam novos clientes. Implorei a eles... e nada! Me mandam para prontos-socorros que não me atendem, aconselham a ligar para o 15. No 15, disseram que não eram dentistas...” Ainda aborrecida, ela continua: “Agora, depois de anos, de manhã, ao meio-dia e à tarde eu mesma coloco minha ponte com cola, após as refeições. Ela sempre cai quando começo a comer. Minha boca está ficando podre”. Os clínicos gerais da cidade, dos quais pelo menos três acabaram de se aposentar, também recusavam clientes por causa da sobrecarga: “Felizmente, um amigo me arranjou um lugar no Vale do Ródano, a 20 quilômetros daqui. Ele me leva de carro. O médico é legal: debita a consulta no…