No Peru, dois mundos frente a frente
No Peru, parece que os fracassos da direita tendem a favorecer apenas a própria direita. Ninguém esperava, portanto, que a crise econômica, política e sanitária atual provocasse a chegada de um homem de esquerda ao poder. Sem maioria parlamentar em um país com um Congresso ruidoso, o novo presidente Pedro Castillo dispõe de uma margem de manobra reduzida
No norte do Peru, a cidade de Cajamarca se orgulha de ter sido palco do “encontro entre dois mundos”: o dos conquistadores espanhóis e o de Atahualpa, o último chefe inca, em 1532. Na época, o corpo a corpo não foi amistoso. Aproveitando a guerra fratricida entre Atahualpa e seu meio-irmão Huascar, os companheiros de armas de Francisco Pizarro capturaram e executaram o chefe inca, antes de estabelecer domínio sobre os territórios que compõem o Peru e o Equador contemporâneos. Começava então uma era de espoliação que as independências do século XIX não interromperam.1 Desde então, assim como o resto da América Latina, os Andes sangram. Suas riquezas escoam; as feridas permanecem. Cinco séculos depois, nas eleições presidenciais peruanas, a região de Cajamarca tornou-se um dos pontos favoritos para um novo “encontro” – uma possível mudança de rumo, esperam alguns. Mais uma vez, dois mundos se chocaram, representados pelos dois…