Nos Estados Unidos, uma Corte supremamente política
Demissionário da Suprema Corte, o juiz Stephen Breyer oferece a Joe Biden a chance de indicar seu sucessor, que precisará ser confirmado pelo Senado. No caso, uma sucessora, já que o presidente prometeu escolher uma afro-americana. O equilíbrio do tribunal, contudo, não será muito modificado: ele continuará favorecendo as políticas conservadoras
Washington, 9 de abril de 2021. Um caminhão percorre as ruas do bairro do Capitólio e estaciona diante dos degraus da Suprema Corte. Traz cartazes com uma mensagem brutal, endereçada ao decano da instituição: “Breyer, dê o fora!”. Financiada por um grupo ligado ao Partido Democrata, a campanha tenta convencer o juiz octogenário Stephen Breyer, de tendência centro-esquerdista, a ceder lugar a alguém mais jovem. Os militantes não perdoam a juíza feminista Ruth Bader Ginsburg de ter tido a péssima ideia de morrer durante o mandato do presidente Donald Trump, que prontamente a substituiu por uma juíza conservadora, Amy Coney Barrett, fortalecendo ainda mais a maioria reacionária da Suprema Corte. A história não diz o que o juiz Breyer pensou do episódio do caminhão: ele acabava de sustentar que a legitimidade da Suprema Corte se fundamenta em sua independência política.1 Seja como for, entendeu o que tinha a fazer. Em…