O bom artista…
Solidariedade: é em seu nome que é oferecida, e cobrada, a recepção aos artistas ucranianos. Por outro lado, o banimento dos artistas russos e as condições necessárias para sua aplicação parecem ser justificados segundo esse mesmo princípio. O boicote, entretanto, possuiu muitos outros desafios para além da simples prática da fraternidade
“Se a arte não tem pátria, os artistas a têm.” No início da Primeira Guerra Mundial, o francês Camille Saint-Saëns, compositor do Carnaval dos Animais (1886), foi taxativo: morto ou vivo, soldado de infantaria em ação ou glória dos séculos passados, o inimigo continua sendo o inimigo.1 Nada de neutralidade usando a arte como pretexto. Saint-Saëns foi um dos pioneiros do boicote cultural. Interveio, assim, em um debate que agitava o mundo musical: devemos ou não continuar a tocar compositores alemães? Não deveríamos fazer “a União Sagrada” também nesse campo, a reunião de todos preconizada pelo presidente da República Raymond Poincaré em 4 de agosto de 1914, na “mesma indignação contra o agressor e na mesma fé patriótica”? O Estado não se envolveu oficialmente. O debate permaneceu entre os músicos. Os compositores “germânicos” foram de fato banidos dos palcos líricos, onde então podia ser ouvida a língua do inimigo. Por…