Na manhã de 23 de outubro de 2023, quando a milícia incendiou 35 ônibus e paralisou o Rio de Janeiro, uma pergunta voltou a martelar na cabeça de quem acompanhava os noticiários: como chegamos até aqui? A resposta exige ir além das manchetes. É preciso olhar para dentro do Estado brasileiro e reconhecer que o modelo de negócio miliciano foi alimentado por instituições públicas, legitimado pelo discurso político e financiado por cada um de nós, ainda que involuntariamente. Este artigo nasce da apuração que resultou no livro Como nasce um miliciano. E o título seria enganoso se limitasse o fenômeno a uma biografia criminal. O que está em jogo é muito maior: uma engenharia de poder que mistura polícia, voto e dinheiro, transformando o crime em empreendedorismo territorial. Um modelo de negócios inovador para o crime. Ou seja, o livro não é sobre polícia. O livro não é sobre crime.…