O enigma peronista
Muitos se perguntam sobre a validade da oposição entre direita e esquerda. Na Argentina, uma especificidade local complica a equação. A mesma corrente política reúne defensores do livre-comércio e protecionistas, submissos aos Estados Unidos e à Europa, e soberanistas, neoliberais e partidários de um Estado forte: o peronismo
Toda segunda-feira à noite, há mais de vinte anos, o círculo Oesterheld se reúne no salão do Hotel Bauen, um estabelecimento de luxo de Buenos Aires gerenciado em cooperativa. O grupo leva o nome de um escritor de histórias em quadrinhos e militante da esquerda peronista desaparecido em 1977. O salão Simón Bolívar acolhe com um jantar “convivial e político” partidários, dirigentes, personalidades e amigos desse “movimento nacional e popular” – uma corrente política diversificada. Se excluídos os dois anos e seis dias da presidência de Fernando de La Rua (da União Cívica Radical), entre 1999 e dezembro de 2001, os peronistas dirigiram a Argentina de 1989 até as eleições presidenciais de 2015. O empresário Mauricio Macri é o primeiro presidente de direita não peronista e não ligado aos militares. Contudo, compartilha um ponto comum ou de continuidade nesse ciclo: neoliberais e submetidos à cartilha das instituições financeiras internacionais que…