O ESG gera retorno financeiro, mas vocês não estão preparados para essa conversa
A transformação do mercado financeiro e corporativo em um sentido mais sustentável e responsável é uma necessidade
O ESG envolve responsabilidade ambiental, justiça social e boa governança corporativa, e está se tornando cada vez mais determinante na tomada de decisões de investidores e empresas. Contudo, um tema polêmico persiste: o ESG gera retorno financeiro, sim, mas será que o mercado está realmente preparado para compreender o impacto financeiro dessa transformação?
Embora seja frequentemente associado a iniciativas de responsabilidade corporativa e à mudança de mentalidade, a visão de que ele não gera lucro é uma realidade para muitos setores. Isso ocorre devido à falta de compreensão sobre os benefícios financeiros reais que tais práticas trazem a longo prazo.
Historicamente, as instituições visam primordialmente ao lucro. A rentabilidade é, muitas vezes, o principal (ou único) critério de sucesso. Esse paradigma, contudo, está mudando. Em vez de priorizar apenas o retorno pecuniário, observa-se uma transição para um modelo que considera os impactos sociais, ambientais e a qualidade da governança.
O Brasil, com a natureza que lhe é própria; com as fontes e as capacidades energéticas; tem como modificar suas vantagens comparativas, transformando-as em competitivas.
Infelizmente, a chaga de nosso século é a mudança climática. Esse dado compõe a realidade, e todos os governos – à direita ou à esquerda – terão de enfrentar tal adversidade dos tempos modernos. Portanto, é muito importante que haja uma política de Estado e não meramente de governo, que lide diretamente com questões ambientais .
Em 21 de novembro, o Banco Central do Brasil (BCB) publicou a Instrução Normativa BCB nº 325/2022, alterando o documento nº 268/2022 e definindo registro contábil no plano de contas das Instituições Reguladas pelo BC (COSIF). Também são contemplados os ativos de sustentabilidade socioambiental e climática; incluindo os Certificados de Crédito de Carbono.
Assim, monitorar as carteiras de investimentos das instituições é uma maneira de acompanhar a evolução do mercado.
O conceito de que “ESG é um custo”, que prejudica o desempenho financeiro no curto prazo, ainda está muito presente no discurso de executivos e investidores mais conservadores. Paralelamente, há uma falta de capacitação para avaliar as métricas da sigla. Isso dificulta a transparência nas decisões de investimento e gera também uma resistência à mudança por parte de executivos e líderes empresariais que não conseguem ver além de seus quadros tradicionais de lucratividade imediata.
Conforme relatório da gestora holandesa Rebeco, o tema tem sido pesquisado academicamente há quase meio século. O levantamento analisou 2.250 estudos sobre o desempenho do ESG. São quatro décadas datadas. Conclui-se que o ESG está correlacionado com o desempenho financeiro do âmbito corporativo em 62,6% das citações. Houve resultados negativos em menos de 10% dos casos.
Uma pesquisa de 2023 mostrou o desempenho de instituições entre os anos de 2015 e 2020, que obtiveram resultados semelhantes. O que reforça a ideia de que a integração do ESG em operações e decisões profissionais impulsionam o projeto. Resultado: companhias com gerenciamento efetivo e melhor desempenho de lucratividade.
Uma agenda que gera valor para instituições entrega os mesmos resultados positivos para gestores de ativos. Muitas estratégias falham na concentração de informações relevantes para o próprio ESG, quando muitas vezes, não estão condizentes ao cumprimento de requisitos pontuais.
Investimentos ESG capturam valor por meio da avaliação de processos pelos quais as instituições integram sustentabilidade aos negócios. As ferramentas são ajustadas para medir riscos, oportunidades e impactos específicos em cada setor geográfico que esteja conforme as características do mercado. Confirma-se esta tese de maneira mais abrangente devido à alocação de investimentos. Por fim, isso já é uma ocorrência antiga na ótica da gestão empresarial.
Portanto, sim, o ESG pode gerar lucro. Mas a verdade é que muitos ainda não estão preparados para perceber esse potencial. A transformação do mercado financeiro e corporativo em um sentido mais sustentável e responsável não é apenas uma tendência, é uma necessidade. As companhias devem se preparar para essa mudança, entendendo que o valor do ESG pode agregar ao seu negócio, estarão mais bem posicionadas para liderar em um mercado cada vez mais competitivo e exigente.
ESG não é mais apenas uma questão de imagem corporativa ou boa vontade. Trata-se de uma estratégia robusta e inteligente, que pode gerar um impacto financeiro tangível. E enquanto alguns ainda hesitam, outros já estão aproveitando a oportunidade de se colocar no caminho de um futuro mais rentável e sustentável.
Vanessa Pires é CEO da Brada, empresa que conecta investidores a projetos de impacto positivo por meio de leis de incentivo