Seria mesmo o fim do dólar?
A cúpula do Brics em Johannesburgo, em agosto, foi acompanhada de declarações oficiais denunciando o lugar da moeda norte-americana na economia mundial, bem como sua utilização para fins políticos. Rússia e Brasil anunciaram que pretendem limitar sua exposição às verdinhas. Contudo, será que basta declarar o fim da hegemonia do dólar para executá-la?
“Os relatos da minha morte são amplamente exagerados”, teria ironizado Mark Twain em 1897, quando uma agência de notícias anunciou seu falecimento. A recente explosão de declarações alardeando o fim da hegemonia do dólar evoca o espírito do escritor norte-americano: a despeito de algumas declarações inflamadas, o atual Sistema Monetário Internacional (SMI) não está morto. Entretanto, tal como o autor de Huckleberry Finn quando da publicação de seu obituário prematuro, ele está doente. O questionamento do papel do dólar na economia global não é novidade. Em 2010, um certo Nicolas Sarkozy aproveitou a presidência francesa do G20 para denunciar um modelo que tornava “parte do mundo dependente da política monetária dos Estados Unidos”.¹ Cinquenta anos antes, o ministro das Finanças da França, Valéry Giscard d’Estaing, já tinha apontado o “privilégio exorbitante” que a utilização internacional do dólar conferia aos Estados Unidos. Menos de quinze anos após seu nascimento, os desequilíbrios…