O indispensável comprometimento da Europa
O comprometimento da Europa no Fundo Mundial baseia-se desde a origem em uma visão e uma convicção. A visão de que apenas uma resposta maciça, coordenada e em parceria pode conter a evolução das três doenças que mais matam no mundo em desenvolvimento: a aids, a tuberculose e a maláriaMichéle Barzach
A Europa apoiou ardentemente a criação do Fundo Mundial em 2002 e continua sendo desde então seu principal financiador, com uma contribuição global de 51% do conjunto de seus recursos. A França é o principal doador europeu (e o segundo no plano internacional, depois dos Estados Unidos); a Alemanha e o Reino Unido estão respectivamente em segundo e terceiro lugar.
O comprometimento da Europa no Fundo Mundial baseia-se desde a origem em uma visão e uma convicção. A visão de que apenas uma resposta maciça, coordenada e em parceria pode conter a evolução das três doenças que mais matam no mundo em desenvolvimento: a aids, a tuberculose e a malária. A convicção de que um combate eficaz das doenças passa por uma nova gestão de saúde internacional, baseada em valores como divisão de responsabilidade, respeito e estratégias nacionais e de apropriação das intervenções pelos países, de transparência e implicação de todos os agentes essenciais na luta contra as doenças – onde em primeiro lugar encontram-se a sociedade civil e as comunidades.
Em dez anos, o Fundo Mundial obteve, por meio dos programas que financia, resultados notáveis e de uma amplitude nunca antes conquistada pelas organizações internacionais de saúde, testemunhando ao mesmo tempo um esforço financeiro internacional sem precedentes, a eficácia desse modelo de ajuda levada aos países em desenvolvimento e a importância dos valores que o determinam.
A crise econômica e financeira que hoje atinge a Europa não deve abalar suas convicções, seu comprometimento financeiro com relação ao Fundo Mundial nem os valores fundadores tão profundamente europeus dessa organização: promover a saúde como um direito, combater as desigualdades no acesso aos cuidados e à prevenção, lutar contra as discriminações sofridas pelas populações vulneráveis – como as mulheres e as crianças – ou marginalizadas, promover os direitos humanos e a democracia graças a uma participação crescente da sociedade e das parcerias.
Apoiados pela opinião pública europeia, que, apesar de um ambiente econômico inquietante, continua convencida em 85% da importância da ajuda ao desenvolvimento e em 62% da necessidade de manter os compromissos de aumento da ajuda, a Europa e seus Estados-membros devem conservar o leadership na luta contra as epidemias no seio do Fundo Mundial e manter seu compromisso financeiro. Para isso, os países europeus não devem ceder à tentação de se fechar em estratégias nacionais de cooperação em detrimento de uma ação de parceria multilateral e precisam evitar as armadilhas de uma tecnocracia excessiva e de ditames financeiros.
As parcerias público-privadas tecidas no seio do Fundo Mundial entre os países doadores, os países donatários, o setor privado e as fundações, os representantes da sociedade civil e os parceiros técnicos lembram o essencial: as intervenções de saúde pública da forma como são apoiadas pelo Fundo Mundial são, em primeiro lugar, ações de solidariedade, ações de homens e mulheres em prol dos mais pobres e vulneráveis do planeta.
*Michéle Barzach é ex-ministra da Saúde Francesa (1986-1988) e presidente dos Amigos do Fundo Mundial Europa ( www.afmeurope.org ).