O Quênia no atoleiro haitiano
Em 20 de novembro, a escalada de violência perpetrada por gangues e forças de segurança obrigou a Médicos Sem Fronteiras (MSF) a suspender suas atividades em Porto Príncipe. Recém-chegada, a Missão Multinacional de Apoio à Segurança no Haiti, liderada pelo Quênia e apoiada por Washington, será substituída por uma verdadeira operação de manutenção da paz?
Logo após desembarcarem no aeroporto internacional Toussaint Louverture, em Porto Príncipe, em 25 de junho de 2024, os duzentos policiais fardados arriscaram alguns passos de dança. A cena apresenta todos os elementos de um clássico da dramaturgia colonial: um exército estrangeiro chega como salvador a um país tropical mergulhado no caos. Contudo, essas tropas têm um perfil inédito: embarcadas na véspera em Nairóbi, a 12 mil quilômetros de distância, compõem o primeiro contingente queniano da Missão Multinacional de Apoio à Segurança (MMAS), enviada para “combater as gangues” e “restaurar a segurança” no Haiti. Desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 7 de julho de 2021, as organizações criminosas, que controlam 80% da capital, mataram 12 mil pessoas e forçaram outras 700 mil a abandonar suas casas.1 Uma deliberação de 2 de outubro de 2023 do Conselho de Segurança da ONU criou a MMAS e determinou seu envio. Os Estados…