O retorno da Rússia à África: uma ilusão de ótica?
Após um longo eclipse, a Rússia retoma o passo na África. Apresentado por Paris como uma manobra tortuosa, esse retorno assinala, na verdade, a banalização da potência russa. Moscou que, no passado, apoiou lutas contra o apartheid na África do Sul e pela descolonização, contenta-se atualmente em preencher sua carteira comercial e reforçar parcerias de segurança
Outubro de 2019. Cerca de quarenta chefes de Estado lotam as ruazinhas da antiga Vila Olímpica de Sochi, balneário no Mar Negro que sediou os Jogos de Inverno de 2014. Realizada por iniciativa do presidente Vladimir Putin, a primeira Cúpula Rússia-África foi concluída com a proclamação de objetivos ambiciosos – a Rússia pretende duplicar o comércio com o continente em cinco anos – e com a promessa de um novo encontro, provavelmente em Adis-Abeba (Etiópia), sede da União Africana, em 2022. No Ocidente, o grande evento diplomático foi visto como a consagração do retorno da Rússia ao continente africano, refletindo um novo interesse pela região, sob uma estratégia abrangente. Porém, uma análise mais atenta mostra que esse processo na verdade começou há cerca de quinze anos e, de lá para cá, evoluiu muito, tanto em termos da geografia dos países envolvidos como no que concerne aos vetores de influência utilizados, embora sem que a Rússia tenha constituído uma abordagem coerente em escala continental. Centenas de diplomatas soviéticos Durante muito tempo, a topografia da influência russa na África seguiu os contornos da descolonização e da luta contra o apartheid. Embora o continente estivesse presente nas reflexões de Lenin desde o início da década de 1920, foi apenas três décadas depois, com o colapso…