O romance da “grande substituição”
Em 10 de abril, os deputados europeus aprovaram o novo pacto sobre migração e asilo, que intensifica os controles nas fronteiras da União Europeia. Neste mundo barricado, o Ocidente vive na angústia de uma inundação de estrangeiros estranhos ou de refugiados climáticos. Certa literatura pode ter contribuído para moldar esse imaginário
Simples, eficaz. No entanto, de onde vem essa fórmula, rapidamente elevada ao status de mito moderno para o uso de nacionalistas de todos os países? A questão inspira duas respostas, que, por sua vez, contam duas histórias da “grande substituição”. Documentar a primeira, puramente factual, requer apenas uma breve pesquisa na internet e em alguns livros pouco recomendáveis. O autor da expressão é Renaud Camus, escritor vanguardista que desfrutou de algum sucesso nas décadas de 1970 e 1980, até que, em 2000, um escândalo relacionado ao seu antissemitismo manchou sua reputação e evidenciou sua virada à direita – que, na verdade, já ocorria havia algum tempo.1 A controvérsia não impediu o autor de reunir em torno de si uma pequena comunidade de adeptos. Em 2002, ele fundou o Partido da I-nocência (Parti de l’In-nocence), que multiplicou comunicados sobre as supostas “nocências” (incômodos)2 e se concentrou na imigração e na “mudança…