O setor automobilístico em uma era darwiniana
O discurso dominante costuma vincular o sucesso econômico das empresas ao temperamento de seus gestores. Estão em forte crescimento? É porque contam com o “talento”, a “audácia”, o “espírito visionário” de homens extraordinários – como Carlos Tavares, diretor da Stellantis (Peugeot, Fiat, Jeep, Alfa Romeo, entre outras). Desse modo, mantêm-se ocultos os reais custos da “competitividade” que tanto deslumbra a mídia
Trata-se de uma espécie de César [o Oscar francês] da imprensa econômica. Com um pouco menos de prestígio, porém com a mesma propensão ao esplendor e à confraternização entre iguais. Ele também é realizado no Théâtre des Champs-Élysées, monumento art déco no oitavo distrito de Paris, que já abrigou o grande prêmio do cinema. Todo ano, o BFM Awards premia gestores e empresas que “simbolizam o melhor da economia francesa”, segundo o canal de notícias 24 horas. Em 7 de novembro de 2019, o prêmio de “gestor do ano” foi entregue a Carlos Tavares, então presidente-diretor-geral (CEO) da montadora de automóveis PSA (Peugeot Société Anonyme). Sob os aplausos de 2 mil pessoas, o homenageado sobe ao palco. Silhueta esbelta, terno neutro e sorriso satisfeito, o CEO pesa meticulosamente cada palavra. “Claro que estou honrado de estar aqui com vocês, mas estou também extremamente confuso”, confessa. “Confuso porque quem deveria estar…