O silêncio das fábricas
Uma fábrica fecha, os operários se manifestam, o Estado declara sua impotência. As lágrimas escorrem e, em breve, a poeira se acumula. “Assim é a vida”, explicam os meios de comunicação, sempre prontos a ocultar a natureza política das escolhas do poder – por exemplo, enfraquecer as organizações dos trabalhadores e destruir os bastiões operários do noroeste italiano
Ela era conhecida como a “Detroit italiana”. Durante décadas, Turim foi um dos corações pulsantes da indústria automobilística europeia. Foi nessa cidade do Piemonte, no noroeste do país, que nasceu a Fiat, há 125 anos, antes de se tornar a maior empresa italiana. Em 1967, no auge do milagre econômico da Bota, a fábrica de Mirafiori, no sul da cidade, produzia 5 mil carros por dia e empregava 52 mil pessoas. Hoje, o silêncio reina em boa parte do local: com a produção em seu nível mais baixo, metade dos 3 milhões de metros quadrados da área está abandonada, e a maioria dos 33 portões que antes recebiam um fluxo contínuo de trabalhadores e materiais permanece fechada. “É uma lenta agonia”, resume Giacomo Zulianello, recepcionista na Carrozzeria, a oficina de montagem de carros dentro da fábrica. Desde seus primeiros dias na linha de montagem, em 1985, ele acompanhou o ritmo…