O uso da IA, mais do que uma atualização histórica, representa uma transformação na área jurídica em todo o mundo
A inteligência artificial tem auxiliado os advogados na execução de tarefas repetitivas, na análise de dados, no fornecimento de percepções jurídicas e no desempenho operacional
Muitos profissionais ainda se questionam: “Inteligência Artificial na Advocacia: oportunidade ou ameaça?”, e eu digo o que acredito que a grande maioria pensa que a inovação deverá, cada vez mais, ser usada com consciência para destacar as habilidades estratégicas e humanas que a circundam. Muitos juristas se questionam quanto ao fato de haver, na usabilidade da IA, uma ameaça. A resposta depende de diversos fatores que ainda estão a se desenrolar nos novelos da história. Mas é correto afirmar que provavelmente a nossa profissão sobreviverá a esta “revolução industrial”, transformando-se, obviamente.
Antigamente, os advogados dependiam de métodos extremamente tradicionais que os levavam a ficar horas esperando ao balcão de fóruns para consultar um processo, o qual era, muitas vezes, meramente burocrático. Atualmente, tal hipótese parece até mesmo romanceada, borrada pela memória de veteranos que viveram, sem dúvidas, uma outra realidade. Mas é fato: os processos eram sempre longos e feitos manualmente.
A prática jurídica estava presa ao passado. A burocracia era excessiva, e não é à toa que a nossa categoria tenha sido conhecida, por muito tempo, como a profissão dos burocratas. Mas não era apenas isso que estava em jogo. Toda a abordagem desse perfil de trabalhador seguia uma lógica desatualizada, como se houvesse uma aversão à modernidade que nos acomete atualmente. Comunicávamos, quase sempre, por telefone ou presencialmente, e a ideia de haver uma tela entre os interlocutores é novidade para o indivíduo que tem como ofício a aplicação da lei. Mesmo com atrasos constantes, havia muita ansiedade no processo, o que exigia paciência. Entendemos, portanto, que, no setor jurídico, a inteligência artificial para advogados tem o potencial de revolucionar a profissão, automatizando tarefas repetitivas, como a análise de documentos e a previsão de resultados judiciais.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação anunciou recentemente que está prestes a lançar o Plano Brasileiro de IA, que prevê um investimento de R$23 bilhões ao longo dos próximos quatro anos, com o objetivo de implementar tecnologias mais desenvolvidas em diversas áreas, incluindo o jurídico. Nesse setor, teremos como destaques os chatbots jurídicos, automação de processos e análises preditivas.
“Conforme o estudo ‘Artificial Intelligence – In-depth Market Insights & Data Analysis‘, publicado pela plataforma de inteligência de dados Statista, o mercado de softwares de IA cresceu 35% ao ano até 2025, alcançando um valor de 126 bilhões de dólares. O segmento está se expandindo, o que nos leva a crer que a utilização das inovações será cada vez mais disseminada e incorporada ao cotidiano do advogado. Esse dado evidencia o potencial dessa tecnologia em nosso mercado.”
Isso já se tornou, nos dias de hoje, uma necessidade. Os que não se atualizarem poderão sofrer as consequências da obsolescência, enfrentando dificuldades para manter sua relevância na área. Os questionamentos mais comuns que cercam a questão giram em torno da ideia distópica de que muitos serão substituídos.
Resta-nos responder a uma questão: estamos, enquanto homens da lei, preparados para essa revolução? Mas como esse profissional tem incorporado a tecnologia em sua rotina? Estima-se, segundo o Fórum Econômico Mundial, que cerca de 85 milhões de empregos poderão ser automatizados até 2030. Qual é o nosso planejamento diante disso? Há nas nossas universidades mobilização suficiente para refletir sobre as problematizações desses prováveis episódios? Nas salas de aula, há materiais e docentes preparados para a ‘revolução’ que começa a se engendrar?
A sistematização não necessariamente eliminará empregos. Contudo, transformará muitos deles. Ainda conforme o levantamento, a demanda por novos colaboradores com qualificações em IA poderá gerar cerca de 97 milhões de novas vagas. Por isso, é necessário que haja uma mudança de mentalidade, com mais discussões e debates sobre o assunto, de maneira que possamos entender como essa mudança está afetando o modus operandi da nossa profissão.
A ferramenta tem nos auxiliado na execução de tarefas repetitivas, na análise de dados, no fornecimento de percepções jurídicas e no desempenho operacional. Assim, sobra mais tempo para pensar em estratégias que auxiliem melhor as atividades de nossos clientes nas audiências.
O trabalho jurídico no Brasil está inflado com uma miríade de casos. O Judiciário brasileiro recebeu 29,5 milhões de novas ocorrências, a taxa de crescimento é de 9%. A inovação surge como uma solução para gerenciar essa quantidade de maneira mais funcional. Sobrecargas devem ser evitadas e as assistências ganham agilidade e precisão.
Outro ponto que vale ser ressaltado é o quanto a IA tem sido útil para ajudar advogados na administração de seus escritórios. Há diversos programas que facilitam o trabalho desses profissionais, fornecendo funcionalidades específicas para a gestão de casos, documentação, controle de processos judiciais, gerenciamento de clientes, geração de relatórios e automação de tarefas rotineiras. Isso atende às necessidades da advocacia, com o objetivo de aumentar a eficiência, o rendimento e a consistência das operações.
Caio Augusto é advogado, mestre em Direito Constitucional, ex-presidente da OAB-SP (2019-2021) e atual candidato à presidência da OAB-SP (2025-2027).