Onde foi parar o inconsciente?
Uma força alheia à nossa razão que interfere em nossas escolhas, pensamentos e corpo: o inconsciente, segundo Sigmund Freud, trouxe uma revolução na compreensão do ser humano, levantando suspeitas sobre as normas comuns. Nossa percepção e, de modo mais amplo, o “bom senso” foram alterados por isso. Hoje, a celebração pelos empreendedores da saúde mental de um ego “transparente” marca um retrocesso
Para neutralizar uma ideia que possa gerar dúvidas sobre os valores que justificam o sistema vigente, não é necessário, nas democracias, proibi-la – afinal, defendemos a liberdade... Basta distorcê-la, pervertê-la, esvaziá-la. Isso é discreto, elegante e, além do mais, bem-aceito, pois não se trata de ser reacionário atacando uma descoberta, e sim de parecer progressista popularizando-a; e, como toque final, isso é lucrativo. Foi exatamente o que aconteceu com a noção de inconsciente. Quando os escritos de Sigmund Freud e de seus discípulos afirmaram que esse mistério profundo influenciava nossa vida, houve uma mudança radical na forma de entender os distúrbios psíquicos e uma revolução na visão de mundo. Ora, o que acontecia com nosso livre-arbítrio? E nossa responsabilidade? Que papel restava para a razão, aquela habilidade tão preciosa que deveria ser incentivada por uma disciplina saudável? O que acontecia com a singularidade humana se o indivíduo fosse “controlado” por…