Os frutos amargos do estallido social chileno
Desde a revolta popular de 2019, que abalou o governo de direita da época, o Chile passou por várias consultas para substituir a Constituição herdada da ditadura – sem sucesso –, e a esquerda comandou o Palacio de La Moneda. Cinco anos após esse evento histórico e às vésperas de novas eleições, o que restou do estallido social?
“Desde nossas mobilizações de 2019 contra as desigualdades, nada realmente mudou nesse aspecto”, suspira Ignacio Puelma, presente nas ruas de Santiago naquela época. De fato, no Chile, 1% da população ainda detém cerca de 40% da riqueza nacional.[1] O estallido social [explosão social], como foi chamado pelos manifestantes e pela mídia o levante popular, durou cinco meses. Ele chegou a mobilizar 2 milhões de pessoas nas ruas da capital em 25 de outubro de 2019, seu ápice, juntamente com a greve geral de 12 de novembro – algo sem precedentes na história do país. Dirigido contra o governo do falecido presidente bilionário Sebastián Piñera, que governou entre 2018 e 2022, o movimento protestava contra as desigualdades, o alto custo de vida e as injustiças sociais herdadas do modelo econômico neoliberal forjado pela ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), e resultou em dois desdobramentos essenciais. Primeiramente, na criação sucessiva, entre 2021 e…