Os pontos cegos do feminismo burguês europeu: raça e classe
“O feminismo liberal serve para pacificar as lutas feministas de libertação, oferecer uma respeitabilidade e um pedaço da torta capitalista”, analisa em entrevista a feminista decolonial francesa Françoise Vergès
O feminismo pode ser universal? As mulheres lutam em todas as partes do mundo contra a mesma forma de opressão? As feministas do Sul global e das ex-colônias discordam da universalidade do feminismo e adotam a virada decolonial, de acordo com a qual a colonização iniciou uma divisão internacional do trabalho com base nos critérios de raça e gênero. Segundo essa divisão, o corpo dos trabalhadores escravizados era considerado automaticamente inferior, não humano, por não ser europeu, branco e tampouco feminino ou masculino de acordo com a norma europeia. Nesta entrevista, a feminista decolonial francesa Françoise Vergès, autora do livro Um feminismo decolonial,1 fala sobre os dois pontos cegos do feminismo burguês europeu: a questão racial colonial e o capitalismo/imperialismo. A teórica apoia-se em Aimé Césaire para descrever o “efeito bumerangue”: países colonizadores e escravagistas trazem para dentro das metrópoles as ideias racistas, que contaminam até os ambientes ditos progressistas.…