Miscelânea — Resenhas

GOVERNAR OS MORTOS: NECROPOLÍTICAS, DESAPARECIMENTO E SUBJETIVIDADE Fábio Luís Franco, Ubu Editora A pesquisa em filosofia, no Brasil, ainda está em estágio inicial de uma efetiva colaboração na produção de pensamento crítico sobre nossas próprias experiências originárias. O livro Governar os mortos representa um esforço no sentido de ultrapassar esse passivo. O cuidadoso trabalho é …

por em

Os pontos cegos do feminismo burguês europeu: raça e classe

O feminismo pode ser universal? As mulheres lutam em todas as partes do mundo contra a mesma forma de opressão? As feministas do Sul global e das ex-colônias discordam da universalidade do feminismo e adotam a virada decolonial, de acordo com a qual a colonização iniciou uma divisão internacional do trabalho com base nos critérios …

por em

David Bowie vai a leilão

Londres, fevereiro de 1968. Exuberante músico folk com formação em teatro e mímica, o jovem David Bowie recebe de sua gravadora a demo da canção “Comme d’habitude”, lançada alguns meses antes na França. A tarefa era importante: escrever a adaptação inglesa do sucesso francês, cuja versão gravada por Claude François acabava de chegar ao primeiro …

por em

A falsificação alimentar

No século XVIII, os açougueiros pouco escrupulosos enchiam de ar a carcaça de seus animais para aumentar o volume. Maquiavam a carne cinzenta utilizando corantes que, tal como a cochonilha, restituíam a cor vermelha mais bonita. Falsificavam as linguiças colocando carniça nelas. Os padeiros, por sua vez, misturavam de tudo à farinha do pão – …

por em

O espectro da fome

A guerra na Ucrânia vai provocar uma imensa crise alimentar no mundo? A questão está no ar desde o início da invasão do país pela Rússia, em 24 de fevereiro, pois diversos indicadores confirmam a gravidade da situação. Nos Estados Unidos, os valores do trigo no Chicago Mercantile Exchange – um dos locais de referência …

por em

Diante do colapso, o Líbano tenta proteger sua memória

“A cada manhã, ao despertar, é preciso buscar um sentido.” Ghassan Halwani, artista visual libanês, fuma um cigarro no balcão da Mansion, uma grande casa abandonada transformada em espaço cultural compartilhado em Zokak el-Blat, um bairro de Beirute distante do porto, epicentro da explosão de 4 de agosto de 2020 que matou mais de duzentas …

por em

Na Colômbia, um obstáculo chamado Medellín

Chegando pelo Aeroporto Internacional de Rionegro a Medellín, cidade com 2,5 milhões de habitantes, seguimos pelas frias montanhas do Oriente Cercano, área que abriga algumas das casas mais caras do país, incluindo a do ex-presidente Álvaro Uribe (que está sendo processado por corrupção e suborno a testemunhas). Ao longo do caminho, restaurantes elegantes, bares lounge …

por em

Como Pequim absorveu Hong Kong

Até hoje, Hong Kong tem funcionado como a porta de entrada da República Popular da China (RPC) na economia global, tanto do ponto de vista comercial como financeiro. Tendo se tornado uma Região Administrativa Especial (RAE) após ser devolvida pelo Reino Unido, em 1º de julho de 1997, a cidade ainda abriga parte do capital …

por em

A ONU corre o risco de morrer?

Nova York, Conselho de Segurança das Nações Unidas, 21 de fevereiro de 2022. Após ter condenado, como a maioria de seus homólogos, a agressão russa contra a Ucrânia, o embaixador do Quênia, Martin Kimani, estendeu seu propósito: “Além do mais, condenamos categoricamente a tendência observada nestas últimas décadas entre alguns Estados poderosos, incluindo aí membros …

por em

O Sul se recusa a se alinhar com o Ocidente na questão da Ucrânia

A Ucrânia é palco de um confronto planetário entre “democracia e autocracia”, como proclama o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, uma definição repetida pelos comentaristas e políticos ocidentais? Não, retruca a voz solitária do jornalista norte-americano Robert Kaplan, “ainda que isso possa parecer contra intuitivo”. Afinal, “a Ucrânia vem sendo há muitos anos uma …

por em

O complexo militar-intelectual

Domingo, 1º de abril de 2018. A guerra civil se alastra na Líbia desde a derrubada e o assassinato de Muamar Kadafi. Em uma turnê promocional de seu livro La guerre sans l’aimer [A guerra sem amá-la], o escritor e comentarista político francês Bernard-Henri Lévy falou a respeito da intervenção ocidental para a France Inter: …

por em

Quando o direito dos estrangeiros se torna a regra para todos

A ideia foi tão martelada durante a campanha presidencial francesa que seria possível não considerá-la verdadeira: a França seria um “saguão de estação ferroviária”, um “hotel” onde qualquer estrangeiro pode deixar no chão suas malas e se beneficiar de um sistema social generoso. “Todo mundo entra na França, ninguém sai”, indignava-se o presidente do Rassemblement …

por em

Três blocos, dois perdedores

O primeiro turno da eleição presidencial francesa prolonga a grande reviravolta do espaço político iniciada em 2017. Assistiu-se ao desenho de três grandes espaços de dimensões relativamente comparáveis entre si, cuja originalidade reside no fato de não se inscreverem, senão de forma muito imperfeita – para usar um eufemismo –, na antiga clivagem esquerda/direita. É …

por em

A recriação contemporânea da tecnologia de poder de Goebbels

Embora questões referentes à manipulação de valores e símbolos, à retórica como instrumento de disputa política e à tênue fronteira entre ocultação e veiculação de ideias acompanhem o que se entende por “política”, há importantes mudanças no cenário ideológico voltado à “tecnologia de poder”. Notadamente a partir do século XX, com a consolidação dos meios …

por em

Redes políticas e a política das redes

A internet, sobretudo as mídias sociais, abriu todo um novo espaço para campanhas políticas e, mais amplamente, para a ação política em geral. Se lembrarmos do início da segunda década dos anos 2000, por volta de 2011, encontraremos um discurso extremamente positivo sobre essas possibilidades que se abriam. Em especial o Twitter, mas também outras …

por em

Combate à desinformação não pode depender apenas das plataformas

De acordo com o Relatório Democrático V-Dem 2022, o ano de 2021 viu o surgimento de um número recorde, nos últimos cinquenta anos, de nações autocráticas. O extenso estudo aponta ainda para uma mudança na natureza dos governos autocráticos, que agora dependem mais da polarização e da desinformação. Em decorrência disso, a preocupação com a …

por em

“É hora da luta sair do papel”

Duas das maiores paixões dos brasileiros – o futebol e o Carnaval – têm se mostrado espaços de organização popular que se tornaram cada vez mais importantes não só em razão de sua politização, mas também porque as representações coletivas dos interesses das maiorias espoliadas e oprimidas têm sido combatidas sistematicamente pelo governo de extrema …

por em

O triunfo do cinismo

A reeleição de Emmanuel Macron conclui um duelo que uma maioria esmagadora dos eleitores esperava evitar. Ela anuncia um novo quinquênio sem ímpeto e sem esperança. O presidente que encerra o mandato se vê reconduzido por falta de alternativa. A maioria dos franceses avalia que seu balanço é ruim (56%), que há cinco anos a …

por em