Diante do colapso, o Líbano tenta proteger sua memória
Em 15 de maio, os libaneses vão às urnas escolher os 128 membros da Câmara dos Deputados. A eleição chega em um contexto de grave crise financeira, colapso social e ressurgimento de tensões políticas e religiosas. Apesar das dificuldades, organizações da sociedade civil e intelectuais se mobilizam para preservar e digitalizar o patrimônio nacional
“A cada manhã, ao despertar, é preciso buscar um sentido.” Ghassan Halwani, artista visual libanês, fuma um cigarro no balcão da Mansion, uma grande casa abandonada transformada em espaço cultural compartilhado em Zokak el-Blat, um bairro de Beirute distante do porto, epicentro da explosão de 4 de agosto de 2020 que matou mais de duzentas pessoas e agravou as dificuldades sociais, econômicas e geopolíticas nas quais o país se debate há várias décadas.1 E, no entanto, quase dois anos depois, sua fachada venerável do início do século XX permanece desfigurada, apesar de meses de reparos. O cineasta não encontra mais sentido em realizar filmes em meio a um cotidiano degradado, com o qual cada um tenta lidar como pode. A eletricidade pública não está disponível senão durante três ou quatro horas por dia, e é preciso encontrar meios de pagar a ligação ao gerador privado que compensa em parte os…