Palavra 30
Na rua, outra rua
De manhã, domingo, o tapete cristalino sobre o chão denuncia a madrugada em que a rua, tão desimportante, pertenceu a pessoas que costumam só ter com ela uma relação de passagem ou compromisso. O bar, portas fechadas, recobriu-se de seu aspecto simplório, por trás da bandeira puída
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Clea
Histórias novas, e algumas reinterpretadas, vêm outra vez salvar o romance do pecado da falta de originalidade, tendo em vista a existência de seus antecessores. Passei por quase todas elas com o desdém de um connaisseur enfastiado
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A casa no morro – Parte 4
Iuri talvez se aborrecesse com minha afirmação. Ele preferia chegar
pelas bordas. Senti que me lançava um de seus olhares de censura, mas eu
estava prestando atenção na reação de Jônatas. O homem não se moveu. Não
havia como ficar mais branco. Porque havia desconfiado do que estava por
vir
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Um poema de Pablo Simpson
AquiRodrigo Gurgel
Os bons cronistas conseguem partir de um fato simples, trivial, e elaborar uma pintura livre de qualquer moralismo, de qualquer discurso ideológico – uma cena de Renoir -, em que os personagens transitam exatamente como são: pontos fugidios dos quais mal captamos uma sombra de verdade. A fulguração que fica, contudo, parece vibrar diante do leitor, emitindo sinais persistentes, avisando-o de que ali reside algo a ser descoberto. Assim é a crônica de Diego Viana, “Na rua, outra rua”. E não se trata de mera emoção.
Luiz Paulo Faccioli encerra, esta semana, seu diálogo com a tetralogia O Quarteto de Alexandria, de Lawrence Durrell. Atentem para a leitura cuidadosa, que não perdoa as terríveis falhas da tradução, e também para o estilo, uma mescla de leveza e rigor difícil de ser encontrada. Faccioli não permite que o tédio provocado pelo romance venha atrapalhar sua análise. E ainda que o texto seja perpassado por um clima de diálogo informal, em nenhum momento o articulista se furta ao julgamento – algo a ser elogiado nestes tempos em que sobram pusilanimidade e lambeção nas resenhas da grande imprensa.
A 4ª parte do folhetim “A casa no morro”, de Olivia Maia, traz novas emoções. Todas as pistas nos levam ao criminoso. Será? Mas o que deve fazer o leitor? Acreditar nas palavras do seu guia? Desconfiar até o último momento? Revoltar-se contra o andar da trama? Ou apenas resignar-se a esperar pela próxima semana?
Fechando a edição desta semana, o poema de Pablo Simpson. É uma epifania – para ler e reler, deixando que a poesia flua, nos envolva, aclare nossa percepção. Dizer mais seria ensombrecer o poema.
Até a próxima semana.
Rodrigo Gurgel, editor.